No vinho estão
a verdade, a vida e a morte. No vinho estão à aurora e o crepúsculo, a
juventude e a transitoriedade. No vinho está o movimento pendular do tempo. No
vinho se espelha a vida.
- Roland Betsch
- Roland Betsch
INTRODUÇÃO
Dionísio era a divindade grega
equivalente à divindade romana Baco, regia
os ciclos vitais, as festas, o vinho, o delírio, mas, sobretudo, do êxtase que
funde o iniciado com a deidade. Dioniso
possuía vários nomes e inúmeros epítetos, o teônimo Diónysos não apresenta etimologia definida, sendo possivelmente
composto por Dio, céu em trácio e Nysa, filho, significando então "filho
do céu". Baco, ou Bákkhos, aparece na literatura grega a
partir do século 5 a.C. com Heródoto
e Sófocles, em Édipo Rei, significando "ser tomado de um delírio
sagrado", de onde deriva a palavra Bacante.
Ele
foi à única divindade olímpica que possuía um mortal como um dos pais. É filho
de Zeus e de Sêmele, princesa tebana filha de Cadmo e Harmonia. Sêmele sua mãe então grávida, instigada
por Hera esposa ciumenta de Zeus, rogou ao seu amante divino para se
apresentasse a ela em todo seu esplendor. Zeus
a preveniu de que seria impossível a qualquer mortal resistir a tal visão, mas
como tinha jurado jamais negar-lhe qualquer pedido, mesmo contrariado, surgiu
diante da princesa em sua aparência divina. Sêmele
não resistiu e faleceu fulminada por raios e trovões. Zeus então lhe retirou o filho do ventre e o costurou à sua coxa de
onde, passado o tempo de gestação, nasceu Dionísio.
Seu nascimento a partir de Zeus lhe
garantiu sua própria divindade. Hera,
mais uma vez interviria contra Dionísio
ainda adolescente e fez com que fosse acometido por uma insanidade. Louco
errava pelo mundo ensinando aos homens o cultivo da uva e a fabricação do
vinho. Foi somente após ter sido purificado por Réia, sua avó, que o instruiu a refazer todos os passos que havia feito
antes de sua crise, terminando assim por curá-lo, que Dionísio pode retornar a Grécia
para instaurar ali seu culto. Outro desdobramento da história narra que Hera arranjou ainda, para que os Titãs o matassem, os Titãs então o fizeram em pedaços, mas
ele teve seu corpo reconstituído também por Réia.
Dionísio é mais do que uma divindade
sofredora, é uma divindade trágica como nenhuma outra. Seus ritos religiosos
garantiam que a morte não é o fim de tudo, pois o fato de morrer e renascer
levava seus fiéis seguidores a crer que a alma vive para sempre. Entretanto,
não é possível afirmar que a religião dionisíaca pregasse a crença na
reencarnação, mas é certo que continha a mensagem de salvação após a morte, com
a possibilidade de transcendência, o que era uma revolução em relação às antigas
religiões gregas. Desta maneira, Dioniso
pode ser visto como um grande iniciado, que passou por uma experiência extrema
para ensinar e guiar os homens.
O
culto grego e ocidental a Dionísio
era permeado de Mistérios, nos quais
uma “embriaguez dionisíaca” era induzida
por fatores rituais, como o transe, que leva ao êxtase e ao entusiasmo,
seguindo-se a liberação e, por fim, a purificação. A “embriaguez sagrada”
permitia participar, ainda que de maneira imperfeita, da natureza divina ainda
em vida. Em seu aspecto de divindade do êxtase e entusiasmo[1],
dois estados próprios da religião dionisíaca, Dionísio levava os homens a estarem mais próximos dele mesmo.
Por
sua vez na Ásia, o culto a Dionísio assumia novos tons, já que havia
muito cedo se apartado da terra de
origem, não havia aderido às práticas extáticas que foram lá desenvolvidas. Os
aspectos de inspiração e criatividades divinas relacionadas àquela divindade
haviam sido associados a práticas mais artísticas que por fim permearam a
arquitetura. A união deste antigo culto com a arquitetura e logo com as
atividades práticas da construção, acabaram por formar uma corrente de Maçonaria Operativa (ordem de
construtores) conhecida como Artífices de
Dionísio.
Sobre
esse peculiar e antigo grupo de construtores, Albert G. Mackey discorre graciosamente
em seu “Simbolismo da Franco-Maçonaria”, e mais particularmente no que tange os
paralelos com a Lenda do Assassínio de
Hiram Abiff, qual trecho segue traduzido e adaptado abaixo, conservando as
notas originais e somando-as a novas
observações que se fizeram pertinente para a melhor apreciação do tema.
OS ARTÍFICES DE DIONÍSIO
De
todos os mistérios pagãos instituídos pelos antigos, nenhum era mais largamente
difundido do que os relacionados à divindade grega Dionísio. Eles foram praticados na Grécia, Roma, Síria e toda a Ásia Menor. Entre os gregos, e especialmente
entre os romanos, se faz necessário frisar, que os ritos celebrados nos festivais
dionisíacos eram de caráter desregrado e libertino[2]. Entretanto
na Ásia, eles assumiram uma forma
distinta. Lá, como em outros lugares, sua Lenda
(pois todo Mistério possui sua lenda) narrava e suas cerimônias representavam
o assassínio de Dionísio pelos Titãs. A doutrina secreta entre os
asiáticos, não era tão diferente das nações ocidentais, mas havia algo de característico
na organização de seus sistemas. Os Mistérios
de Dionísio, mais especificamente na Síria, não possuíam somente um caráter teológico. Lá, seus
discípulos uniram à indulgência em suas especulações e ideias secretas quanto à
unicidade da Divindade e imortalidade
da alma, comuns a todos os mistérios, com a prática duma arte operativa e
arquitetônica além de ocuparam-se da construção de templos e edifícios, bem como
na busca da verdade divina.
É
possível posso explicar a maior pureza desses ritos sírios adotando a teoria de
Thirwall[3],
quais aqueles Mistérios "eram os
vestígios dum culto precedente ao surgimento da mitologia helênica, e seus
ritos iniciáticos, baseados numa visão natural realista, séria e melhor
equipada para despertar tanto o pensamento filosófico quanto sentimento
religioso". Supondo que os asiáticos, devido sua posição geográfica, não
foram imbuídos dos erros do helenismo, seriam mais capazes de preservar a
pureza e filosofia da antiga fé pelásgica[4],
que sem dúvida, era uma emanação direta da religião patriarcal, ou, como tem
sido chamada, a Pura Maçonaria do
mundo Antediluviano.
Seja
como for, sabemos que "Os Dionisíacos
da Ásia Menor foram, sem dúvida, uma associação de arquitetos e engenheiros,
que tinham o privilégio exclusivo de construir templos, estádios e teatros, sob
a tutela misteriosa de Baco. Eram foram diferenciados dos habitantes não
iniciados ou profanos pela ciência que possuíam, e por muitos sinais
particulares e símbolos pelos quais eles reconheceram um ao outro.". [5]
Esta
sociedade[6]
especulativa e operativa, era especulativa no esoterismo e nas lições
teológicas que eram ministradas em suas iniciações e era operante nos trabalhos
de seus membros como arquitetos, foi marcada por muitas peculiaridades que a
assemelham intimamente à instituição da Maçonaria
atual. Na prática da caridade, os mais abastados eram obrigados a mitigar as
necessidades e contribuir para o suporte dos irmãos mais pobres. Eles foram
divididos, para as conveniências de trabalho e vantagens de gerência, em corpos
menores, que, como as Lojas Maçônicas,
foram dirigidos por dignidades e oficiais. Eles empregaram em seus rituais
religiosos muitos das execuções da Maçonaria
Operativa, e usavam como os maçons, uma linguagem universal e modos
convencionais de reconhecimento pelos quais um irmão reconhecia o outro tanto discretamente
como abertamente, e serviam para unir todo grupo onde quer que se dispersassem,
em uma fraternidade comum[7].
Nos
mistérios de Dionísio a lenda narra à
morte daquele herói-deus, e a subsequente descoberta de seu corpo. Alguns outros
detalhes sobre a natureza do ritual dionisíaco são, portanto, necessários para
uma análise melhor detalhada dos pontos requerem atenção mais imediatamente.
Nestes
rituais místicos, o neófito era encetado a representar simbolicamente e de
forma dramática, os eventos relacionados com a morte da divindade de quem os Mistérios herdaram o nome. Depois de uma
série de cerimônias preparatórias, destinadas a evocar toda sua coragem e
força, o afanismo[8]
ou morte mística de Dionísio era desvelado nas cerimônias,
os clamores e lamentos dos iniciados com o confinamento ou enterro do candidato
numa paragem, sólio, ou caixão, constitua a primeira parte da cerimônia iniciática.
Em seguida, começava a busca de Réia[9]
pelos os restos de Dionísio, que estavam
depositados em meio a cenários de maior confusão e tumulto, até que,
finalmente, a busca fosse bem sucedida. O luto era transformado em alegria, a luz
alcançava as trevas, e o candidato era investido com o conhecimento da doutrina
secreta dos Mistérios, da crença na
existência de uma Divindade e de um
estado futuro de recompensas e punições[10].
Tais
eram os Mistérios que foram praticados
pelos arquitetos, por assim dizer, os
maçons da Ásia Menor. Em Tiro, a cidade mais rica e mais
importante da região, uma cidade memorável pelo esplendor e magnificência com quais
seus edifícios eram decorados, havia colônias ou Lojas destes arquitetos místicos, fato que deve ser observado, uma
vez que constitui um elo importante na cadeia entre os dionisíacos com os maçons.
Entretanto
para fazer com que cada elo desta cadeia se vincule completamente, é necessário
que os artífices místicos de Tiro possam
ser atestados ao menos como contemporâneos a construção do Templo do Rei Salomão, e pode ser viável encontrar tais evidências para
este fato.
Lawrie, cujas elaboradas pesquisas
sobre este assunto não deixa mais nada a desvelar, situa a chegada dos dionisíacos
na Ásia Menor contemporânea à
migração jônica, quando "os
habitantes de Ática, queixando-se da escassez de seu território e esterilidade do
solo, foram em busca de assentamentos mais extensos e férteis. Sendo acompanhados
por um número de habitantes de províncias vizinhas, eles navegaram para a Ásia Menor, expulsaram os habitantes
originais, apoderaram-se das posições mais desejadas, e se uniram sob o nome de
Jônia, porque o maior número de
refugiados era nativo daquela província grega.[11]". Com certo conhecimento das artes da escultura
e arquitetura, nas quais os gregos já tinham realizado algum progresso, os
emigrantes trouxeram para seus novos assentamentos também seus costumes
religiosos, e introduziram na Ásia os
mistérios de Atena e Dionísio muito antes de terem sido
corrompidos pela licenciosidade da pátria-mãe.
Logo,
Playfair situa a migração Jônica no
ano 1044 a.C., Gillies em 1055 a.C. e
Abbé Barthelemy em 1076 a.C.. Porém, o
último desses períodos se estendera até 44 anos antes do início do Templo de Salomão em Jerusalém, fornecendo
tempo suficiente para o estabelecimento da Fraternidade
Dionisíaca na cidade de Tiro, e a
iniciação de "Hiram o Construtor"
em seus mistérios.
Então,
prossegue-se a cadeia de acontecimentos históricos que finalmente uniria este
ramo da Pura Maçonaria derivada das
nações pagãs com a Maçonaria Primitiva
dos israelitas em Jerusalém.
Quando
Salomão, rei de Israel, estava prestes a construir de acordo com os propósitos de
seu pai, David, "Uma casa ao nome do Senhor, seu Deus",
ele fez a sua intenção conhecida a Hiram,
rei de Tiro, amigo e aliado. Salomão estava bem ciente das habilidades
arquitetônica dos dionisíacos de Tiro,
demandou o auxílio do monarca para capacitá-lo a fim de por seu pio projeto em
execução. As Escrituras nos informam
que Hiram satisfez o pedido de Salomão, e mandou os trabalhadores
necessários para auxiliá-lo no glorioso empreendimento. Dentre outros, ele
enviou um arquiteto, que é descrito brevemente, no Primeiro Livro dos Reis,
como "Filho de uma viúva, da tribo de Naftali, cujo pai era um homem de
Tiro; que trabalhava em bronze, cheio de sabedoria e compreensão e hábil para
trabalhar todas as obras em bronze". Mais plenamente, no segundo livro de
Crônicas é descrito como "Homem sábio de grande entendimento do meu pai Hiram, o filho de uma mulher das filhas
de Dã, e cujo pai, um homem de Tiro”. E ainda “Hábil para trabalhar em
ouro, em prata, em bronze, em ferro, em pedras e em madeira, em púrpura, em
azul, e em linho fino, e em carmesim, e era cheio de sabedoria, e de
entendimento, e de ciência para fazer toda a obra de cobre; este veio ao Rei Salomão, e fez toda a sua obra.”.
A
este homem, o Filho de Viúva (como as
Escrituras, bem como a Tradição Maçônica nos narra), foi
confiado pelo rei Salomão um cargo
importante entre os trabalhadores da edificação sagrada que era construída no Monte Moriá. Com seu conhecimento e
experiência como artífice, e sua habilidade eminente em qualquer espécie de
"entendimento, e de ciência para fazer toda a obra ", prontamente emergiu
para os artesãos israelenses e tironianos como o chefe construtor e principal
condutor dos trabalhos. A ele por meio da grande autoridade que lhe foi concedida,
que se atribuí a união de dois povos até então, antagônicos em objetivos, dispares
nas maneiras e de religiões adversas como os israelenses e os tironianos, em uma
fraternidade comum, o que resultou na organização da instituição da Maçonaria. Este Hiram como tironiano e artífice, deve ter se filiado à Fraternidade Dionisíaca, e não deve ter
sido um simplório ou desconhecido membro, levando em conta sua posição na
sociedade, dado ao talento que se dizia possuir e a elevada posição que ocupou
na predileção e corte do rei de Tiro.
Ele deve, portanto, ter sido bem familiarizado com todos os usos cerimoniais
dos Artífices Dionisíacos e
desfrutado de uma longa experiência dos modos de gerência e disciplina que eles
praticavam na construção das muitas edificações sagradas em que laboravam. Ao
menos parte desses usos cerimoniais e da disciplina ele seria naturalmente
inclinado a empregar entre os operários em Jerusalém.
Ele, portanto, une-os em uma sociedade similar em muitos aspectos à dos Artífices Dionisíacos. Ele incutia lições de caridade e de amor fraternal e
estabeleceu uma cerimônia de iniciação para testar experimentalmente a coragem
e o valor do candidato, adotou modos de reconhecimento e imprimiu os encargos de
dever e princípios de moralidade por meio de símbolos e alegorias.
Para
os obreiros e carregadores os Ish Sabal[12] e
para os artesãos, o que corresponderia com o 1º e 2º graus da Maçonaria Moderna, entretanto, pouco
conhecimento secreto havia sido confiado. Como os neófitos nos Mistérios Menores do paganismo, suas
instruções eram simplesmente para purificá-los e prepará-los para uma prova
mais solene, e para o conhecimento das verdades mais sublimes. Estes as
encontravam apenas no grau de Mestre,
qual se destinava ser uma reprodução dos maiores mistérios, e nele procedia ao desenvolvimento,
à instrução e o cumprimento das grandes doutrinas da unicidade da Divindade e a
imortalidade da alma. Até este ponto, não deve ter surgido em tempo, nenhum
obstáculo aparente ou intransponível para o prosseguimento das analogias da Maçonaria com os Mistérios de Dionísio. Como já dito, nos mistérios pagãos essas
lições eram ensinadas alegoricamente por meio de uma Lenda. Logo, nos Mistérios Dionisíacos,
a Lenda era à morte e posterior
ressurreição do herói-deus Dionísio.
Mas teria sido totalmente impossível empregar uma lenda fiel em todas as
instruções na difusão aos neófitos israelitas. Qualquer alusão às fábulas
mitológicas de seus vizinhos gentios ou qualquer a celebração de mitos da
teologia pagã teria sido igualmente ofensivo ao gosto e repugnante às ideias religiosas
de daquela nação. Esta nação era instruída de geração a geração na adoração de
um ser divino cioso de suas prerrogativas, e que havia se tornado conhecido por
seu povo como o Senhor, o Deus do tempo presente, passado e futuro. Como esse
obstáculo surgido teria sido superado pelo fundador israelita da ordem é
incerto: porém, um substituto seria sem dúvida sido inventado, para cumprir
todos os requisitos simbólicos da lenda dos Mistérios
ou da Maçonaria espúria sem violar os
princípios religiosos da Maçonaria Primitiva dos israelitas. Mas, a
necessidade de tal invenção nunca chegou a existir, e antes da conclusão do
templo um evento trágico é dito ter ocorrido, o que serviu para cortar aquele
nó górdio, e na morte do chefe construtor foi legada a Maçonaria sua tão necessária Lenda.
Uma Lenda que, como as lendas de
todos os mistérios, seria empregada para testemunhar a fé na ressurreição do
corpo e da imortalidade da alma.
Antes
de encerrar este tema, é válido ser dito algo sobre a autenticidade da Lenda do Terceiro Grau. Alguns maçons
ilustres estão dispostos a dar-lhe pleno crédito como um fato histórico,
enquanto outros olham para ela apenas como uma bela alegoria. À medida que esta
questão não tenha qualquer impacto sobre o simbolismo da Maçonaria não a torna pertinente, mas aqueles que sustentam seu
caráter histórico que o façam nos seguintes fundamentos:
Primeiro,
porque o personagem da Lenda é moldado
a satisfazer todas as exigências do conhecido axioma de Lirinensis Vincentius, como se pode ajuizar nas questões de tradicionalismos.
"Quod semper, quod ubique, quod ab omnibus traditum est"[13]. Isto
é, devemos acreditar em tudo que a tradição tem sido em todas as épocas, em
todos os lugares, e por todas as pessoas envolvidas.
Sobre
essa questão, a Lenda de Hiram Abiff,
é óbvio, atende todos os aspectos. Ela tem sido universalmente recebida, e
quase universalmente creditada entre os maçons desde as primeiras épocas. Não
há nenhum registro de qualquer Maçonaria
ter existido desde o tempo do Templo sem
ela, e, de fato, está tão intimamente entrelaçada com todo o sistema, que forma a parte mais essencial do mesmo, dando-lhe
seu caráter mais determinante. Evidentemente, a Instituição não poderia existir sem a Lenda, e a Lenda não poderia
teria sido preservada sem a Instituição.
Isto, portanto, os defensores do caráter histórico da Lenda acreditam dar ao menos certa possibilidade para sua
veracidade.
Segundo,
a Lenda
não é contrária à história bíblica dos acontecimentos do Templo, portanto, na abstenção da única autoridade
escrita sobre o assunto, há a liberdade de se utilizar as informações habituais
providas pela tradição, que como é alegado que neste caso, seria razoável, plausível
e embasada por sua sucessão ininterrupta.
Em
terceiro, argumenta-se que o próprio silêncio das Escrituras em relação à morte de Hiram o Construtor, é um argumento a favor da natureza misteriosa
da sua morte. Um homem tão importante ao ponto de ter sido chamado de favorito
dos dois reis, enviado por um e recebido por outro como um presente de alto valor
e uma cessão considerada digna de nota, dificilmente teria seu destino deixado em branco quando a obra estivesse
concluída. Nenhuma única nota, uma linha sequer foi escrita de que sua morte
houvesse ocorrido para prestar contas à posteridade. Previsivelmente, tornou-se
a Lenda dos novos mistérios, e, como sua
antecessora deveria apenas para ser transmitida quando acompanhada das
instruções simbólicas que se pretendia imprimir na mente dos neófitos.
Mas, se por outro lado, fosse admitida que a Lenda do Terceiro Grau fosse apenas uma
ficção e toda a narrativa maçônica e extra bíblica sobre Hiram Abiff seja simplesmente um mito, não poderia nem minimamente,
afetar a teoria de que ela atende ao que se propõe. Numa vez que, em uma
relação mítica, como o instruído Müller[14]
observou, o fato e imaginação, o real e o ideal estão intimamente unidos, e o
mito em si sempre se sobressai. De acordo com o mesmo autor, por meio de uma
necessidade e inconsciência por parte de seus autores, e por impulsos comuns, deve-se voltar para a espúria Maçonaria dos Dionisíacos e para o princípio que levou à formação involuntária do
mito de Hiram. Chega-se então ao
resultado já previsto, ou seja, que a necessidade do sentimento religioso na
mente israelita para o qual a introdução da Lenda
de Dionísio teria sido
abominável, levou à substituição dele por Hiram,
na qual a parte ideal da narrativa tem sido intimamente mesclada com acontecimentos
reais. Assim, como havia um homem como Hiram
Abiff que era o chefe construtor do Templo
de Jerusalém e amigo íntimo dos
reis de Israel e Tiro, algo indicado por seu título de Ab, ou pai, e que ele não foi notado após a conclusão do Templo, são todos fatos “históricos”.
Que ele morreu pela violência, e da forma descrita na Lenda Maçônica, também pode ser verdadeiro, ou podem ser apenas
elementos míticos incorporados a tal narrativa “histórica”.
Mas
se isto sucedeu desta forma ou não, se a lenda é um fato ou uma ficção, uma
história ou um mito, ao menos algo é certo: que a lenda da morte Hiram foi adotada pelos maçons israelitas
do Templo como um substituto para a
lenda idólatra da morte de Dionísio
originária dos Mistérios Dionisíacos dos
operários tironianos...
Autoria de Tiago
Roblêdo M\ M\
Visita Interiora Terrae Rectificando Invenies
Occultum Lapidem
REFERÊNCIAS
Viver Dioniso:
Uma Experiência Arquetípica, Mônica Helena W. de Santana
[1]
Êxtase,
do grego ekstasis, é um estado da alma em que os sentidos se desprendem das
coisas materiais, um arroubo sensorial causado por um grande arrebatamento ou
por um vivíssimo prazer que absorve todo e qualquer sentimento, um estado de
inspiração absoluta. Entusiasmo, do grego enthousiasmos, é um arrebatamento,
dedicação e exaltação criadora, além disso, significa "estar pleno de
deus", de acordo com sua origem etimológica.
[2] A escrita satírica de Aristófanes
não poupou os festivais dionisíacos. Mas a zombaria e sarcasmo de um escritor
cômico devem ser sempre levados em conta. Ele ao menos, era sincero o
suficiente para confessar que ninguém podia ser iniciado se tivesse sido
culpado de qualquer crime contra o seu país ou a segurança pública. Ranae, v
360-365. Eurípedes torna o coro em sua Bacante
para proclamar que os Mistérios eram praticados apenas para fins virtuosos. Em
Roma, no entanto, não havia dúvida de que nas iniciações continham conteúdos de
caráter licencioso. "On ne peut
douter," says Ste. Croix, "que l'introduction des fêtes de Bacchus en
Italie n'ait accéleré les progrès du libertinage et de la débauche dans cette
contrée."--Myst. du Pag., tom. ii. p. 91.--St. Augustine (De Civ. Dei, lib. vii. c. xxi.). Investe
contra a impureza das cerimônias na Itália dos ritos sagrados de Baco. Mas
mesmo que ele não nega que o motivo com que foram realizadas foi de um
religioso, ou pelo menos a natureza supersticiosa, "Sic videlicet Liber
deus placandus fuerat.". A propiciação de uma divindade foi certamente um
ato religioso.
[4] Pelasgos era
um termo usado por alguns autores da Grécia Antiga para se referir a populações
que teriam sido ancestrais dos gregos ou que os teriam antecedido na
colonização do território onde hoje em dia está a Grécia.
[5]
Esta
linguagem
é citada por de Robison (Provas de uma conspiração, p. 20, Lond. Edição. 1.797),
de quem ninguém irá suspeitar ou acusar de uma veneração
excessiva para a
antiguidade ou a moralidade
da ordem maçônica.
[6] Não devemos confundir estes
construtores asiáticos com os artistas que foram posteriormente chamados pelos
gregos, como aprendemos de Aulo Gélio (lib. xx cap 4.) como "Artífices de
Dionísio", Διονυσια & οι τεχνιταὶ.
[7] Há evidências abundantes,
entre os autores antigos, da existência de sinais e senhas nos Mistérios.
Assim, Apuleio em sua Apologia, diz: "Si qui forte adest eorundem
Solemnium mihi particeps, signum dato", etc, ou seja, "Se alguém
passa a ser iniciado nos mesmos ritos que eu fui, e se ele irá me der o sinal,
ele deverá então ter a liberdade para ouvir, o que eu preservo com muito
cuidado". Plauto também alude a este uso, quando , em suas "Miles
Gloriosus", ato iv. sc. 2, ele faz Milphidippa dizer a Pyrgopolonices, "Cedo
signum, si harunc Baccharum es", ou seja, " Dê o sinal se você é um
dessas Bacantes", ou iniciados nos Mistérios de Baco. Clemente de
Alexandria conceitua esses modos de reconhecimento σωθηματα, como se fossem um
meio de segurança. Apuleio usa memoracula em outra narrativa, possivelmente
para denotar senhas, quando ele diz: "sanctissimè sacrorum signa et
memoracula custodire", o que se pode traduzir, "mais escrupulosamente
no sentido de preservar os sinais e senhas dos ritos sagrados".
[8] Do grego “aphanismos”,
desaparecimento de uma pessoa, após determinados acontecimentos, ou, cerimônia
em que as mulheres se entregavam a manifestações de dor, solenizando a morte de
Adônis.
[9]
Divindade grega que era considerada a Mãe das Divindades Olímpicas e avó
de Dionísio, em Cibela na Frígia, esta titã purificou e o ensinou os ritos de
iniciação ao herói-deus.
[10] O Barão de Sainte Croix fornece
uma breve visão das cerimônias: "Dans ces mystères on employoit, pour
remplir l'âme des assistans d'une sainte horreur, les mêmes moyens qu'à
Eleusis. L'apparition de fantômes et de divers objets propres à effrayer,
sembloit disposer les esprits à la crédulité. Ils en
avoient sans doute besoin, pour ajouter foi à toutes les explications des
mystagogues: elles rouloient sur le massacre de Bacchus par les Titans,"
&c.--Recherches sur les Mystères du Paganisme, tom. ii. sect. vii. art.
iii. p. 89.
[11] . Lawrie, Hist. of Freemasonry, p. 27.
[12]
As
escrituras e a tradição narram que, na construção do Templo de Salomão, os maçons foram divididos em diferentes
classes, cada uma engajada em diferentes tarefas. É notado, no Segundo Livro
das Crônicas, que essas classes foram os carregadores, os obreiros
(entalhadores) e os supervisores, chamados
pelos antigos escritores maçônicos de Ish Sabal, Ish Chotzeb e Menatzchim respectivamente.
Possivelmente a instituição Maçônica Moderna tenha observado o mesmo sistema de
regulamento utilizado no Templo, havendo certa semelhança nessas classes com os
graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre atuais.
[13]
Vincentius Lirinensis
ou Vincent de
Lirens viveu no século V da era cristã, escreveu um tratado polêmico intitulado "Commonitorium", notável
para a veneração cega que dava a voz da tradição.
A regra que ele
não estabelece, é
citada no texto, mas, pode ser
considerada numa aplicação diversa, como um axioma pelo qual podemos testar a probabilidade de todas as sortes de tradições.
[14] Prolog. zu einer wissenshaftlich. Mythologie.
Nenhum comentário:
Postar um comentário