As pirâmides que novamente
construíste não me parecem novas, nem estranhas, apenas as mesmas com novas
vestimentas.
- William Shakespeare
APRESENTAÇÃO
A
presença de elementos israelitas na Tradição
Maçônica é inegável, a começar pela própria Lenda de Hiram Abif que no cerne da Maçonaria Especulativa Moderna figura como elemento principal na
ritualística do Mestre Maçom.
Entretanto mesmo que parcialmente esta Lenda
teria alguma validade histórica?
Ora,
as Sagradas Escrituras são antes de
tudo textos teológicos e não prioritariamente registros históricos, e como tais,
a sabedoria alegórica deve prevalecer sobre o rigor histórico. De fato, exceto
por si mesmas, as Sagradas Escrituras carecem de fontes outras que
corroborem suas narrativas.
Dada
essa carência, mesmo desconsiderando os elementos fantásticos das Escrituras, muitos pesquisadores
modernos passaram a questionar a validade histórica do que ali estava
registrado. Mas se tais narrativas são de todo inválidas historicamente, o que
de dizer se seu maior vestígio ou evidência; o próprio povo israelita?
Levando
em conta esse vestígio ou evidência inegável, uma nova corrente passou a circular
numa tentativa de conciliar a história por assim dizer profana e as narrativas
bíblicas. As Sagradas Escrituras seriam
consideradas ao menos parcialmente válidas, porém, acompanhadas de certo “ruído
histórico” que poderia ser no mínimo relevado com apoio de fontes ulteriores.
Com
a óbvia proximidade tanto histórica quanto geográfica dos povos israelitas e
egípcios os últimos seriam um ideal ponto de partida, e tal iniciativa rendeu
frutos. Autores como Ralph Ellis, Robert Lomas e Laurence Gardner guardada as devidas proporções, sugerem que
não somente a histórica israelita pode ser suportada com a história egípcia
como na realidade seria diferentes versões da mesma história!
Essa
corrente estipula que boa parte da história hoje considerada israelita se deu
na verdade em contexto egípcio e que seus personagens seriam na verdade figuras
da história daquele país. Partindo desse pressuposto, Hiram Abif poderia ser
encontrado nos anais da história egípcia?
Ralph Ellis na obra “As Chaves de Salomão, O Falcão de Sabá” discorre
sobre essa hipótese, tomando o faraó Sheshonq
I como a real identidade do Rei Salomão
(fato que se guardado dará luz a mais na questão hirâmica que será abordada) e
traça paralelos entre seu mestre construtor e Hiram Abif. Seu capítulo dedicado
a esse mestre construtor fundamenta o alicerce dessa peça.
HAREMSAF
Embora
uma presumida origem histórica para a Lenda
de Hiram Abif seja incerta, o nome do mestre construtor trabalhou para o
faraó Sheshonq I no Templo de Karnac pode dar algumas evidências
a respeito. Os textos históricos, tirados da pedreira Silsileh, dizem:
Sua majestade
decretou que o comando fosse dado à casa de Harakhte, chefe das obras do Senhor
das Duas Terras, Haremsaf, triunfante para conduzir cada trabalho (...)
a mais seleta (pedra?) de Silsileh, para fazer grandes monumentos para a casa
de seu pai, Ammon-Re, senhor de Tebas. Retornaram a salvo para o sul da cidade
de (Tebas), para o lugar onde sua majestade estava, o... chefe de obras na Casa
de Kheperhezre Setepenre (Sheshonq I) em Tebas... Haremsaf, triunfante. Ele
disse: “Todos vós que dissestes que aconteceu, O meu bom Senhor; nem descansando
a noite, nem descansando ao dia, mas construindo a eterna obra sem cessar”.
É
possível notar que mestre construtor e engenheiro de Sheshonq I, que trabalhou no projeto de Karnac, foi um homem chamado Haremsaf
(ou Hiramsaf)[1]. Mas
de que maneira o nome Haremsaf daria
qualquer evidencia para uma possível origem histórica para Hiram Abif? A resposta para essa questão poderia ser encontrada na Bíblia, especificamente nas narrativas
sobre o mestre construtor que trabalhou para o Rei Salomão. O que a Bíblia
fala a respeito deste homem é:
E o Rei Salomão
enviou e foi buscar Hiram fora de Tiro. Ele era filho de uma viúva da
tribo de Nephtali e seu pai era um homem de Tiro, um trabalhador do metal: e
ele foi preenchido com a sabedoria, conhecimento e sagacidade para o labor de
todos os trabalhos em metal, foi até o Rei Salomão, e fez todo sua obra. Para
ele lançar duas colunas de metal...
Então
o arquiteto bíblico do Templo de Salomão
foi chamado de Hiram(Abif), enquanto
o arquiteto histórico do Templo de Sheshonq I foi chamado de Hiram(saf). Paralelamente, ambos os
arquitetos supervisionaram a construção de templos, foram comissionados por
monarcas e tiveram o mesmo nome tanto no relato egípcio quanto no bíblico. A
única discrepância é que a Bíblia diz
que Hiram(Abif) veio da cidade de Tiro no Líbano, enquanto Hiram(saf)
mais razoavelmente teria vindo do Alto
Egito.
Deve-se
notar, contudo, que realmente havia dois Hirans
na Bíblia: um seria o rei de Tiro no Líbano, enquanto o outro era o mestre construtor, que acabara de
chegar da mesma origem que o rei. A razão para essa confusão de nomes e cidades
talvez esteja baseada em sua tradução e no fato de que esses dois indivíduos
chamados Hiram pudessem ser, na
verdade, parentes.
O
nome Harem (Hiram) foi um título real/sacerdotal no Egito, utilizado pelo faraó Haremheb
e também por Haremkhet, o sumo
sacerdote, e o filho do faraó da 25ª dinastia, Shebitku. Nesse caso, é mais que provável que Hiram de Tiro tenha originalmente
vindo do Egito; então por que a Bíblia acredita que o arquiteto chefe do
Rei Salomão, Hiram, veio do Líbano?
O
Rei Salomão estava negociando com o
Rei Hiram de Tiro a exportação da
madeira de cedro para Israel.
Contudo, quando a construção do Templo de
Jerusalém começou, foi outro Hiram
de Tiro, que era especialista em metalurgia e versado na arquitetura que
supervisionou sua construção. Para tornar esses laços, acerca da existência de
duas pessoas que foram chamadas de Hiram
mais claros, o teólogo Adam Clarke,
fala a respeito do arquiteto de Tiro
que se chamava Hiram:
Este (Hiram)
não foi o rei Tironiano anteriormente mencionado, mas sim um caldeireiro
(trabalhador do cobre) muito inteligente, de origem judia por parte de mãe, que
provavelmente foi casada com um Tironiano.
O
herói da lenda maçônica é chamado Hiram(Abiff)
como assim o Hiram da Bíblia também foi chamado de Abif (Atif).
A evidência para essa declaração vem de outra variante da Bíblia no livro de Crônicas:
E agora eu
enviei um homem habilidoso, dotado do conhecimento de Huram (Hiram) do meu pai.
O filho de uma das mulheres das filhas de Dan, e seu pai foi um homem de Tiro,
hábil para trabalhar no ouro, na prata e no bronze.
Hiram o arquiteto chefe de Salomão, que construiu as grandes colunas
do Templo de Jerusalém, é mencionado na
Bíblia no livro de Crônicas, que geralmente emparelha bem com
o livro de Reis, mas esses textos têm
sido reproduzidos em versões diversas, nas quais existem diferentes detalhes
entre os dois.
A
referência a Hiram é bom exemplo de
tais diferenças, a ortografia de Hiram
para Huram não seria exatamente um
problema, embora o livro de Crônicas
chame ambos, o rei de Tiro e o
arquiteto de Tiro, de Huram. Mas embora o versículo em Crônicas seja quase o mesmo que a versão
de Reis, a primeira linha é um pouco ambígua;
o que significa “do meu pai”? Do meu pai exatamente o quê? A questão é; essa
sentença revisada foi equívoca ou guarda um entendimento mais profundo do
texto? O texto acima foi trazido da Bíblia
do rei James, mas a Bíblia RSV observou a inconsistência no
significado dessa sentença ajustando-a para:
E agora eu
enviei um homem habilidoso, dotado de conhecimento, Huramabi.
A
Bíblia RSV empregou a palavra hebraica abi,
que significa “de meu pai” ao final do nome Hiram,
resultando em Huram-abi (Hiram-abi). Então o nome correto para essa
pessoa seria Hiram-abi, mas a frase ao invés de ser
traduzida como “de meu pai Hiram”',
poderia ser formulada como “Hiram é meu pai”. Essa primeira parte da evidência
a favor dessa nova tradução vem do nome egípcio para o arquiteto chefe de Sheshonq I, que foi chamado de Haremsaf. Os três elementos desse nome
são “Heru” ou “Hira” (o deus falcão, Hórus), “m” (como, de, é) e “f” ou Atif (pai)[2].
O
nome resultante deste mestre construtor, na linguagem egípcia, também foi
pronunciado como Hiram-f ou Hiram Atif. Como pode ser notado, o significado (e a ortografia) desse
nome é aproximadamente o mesmo em ambas as linguagens, hebraica e egípcia:
Hebraico
|
Egípcio
|
Hiram
Abif
|
Hiram
Atif
|
Hiram
é meu pai
|
Hiram
é meu pai
|
A
tradução tradicional do nome egípcio Hiram
saf, em vez de Hiram Atif, tem o significado ainda mais
parecido com aquele que já foi dado. Do único glifo “f”, os historiadores preferiram
deduzir como uma forma abreviada da palavra
saf ou invés de uma abreviação de Atif,
a palavra saf, por sua vez, significa
“menino”, que é um sufixo para muitos nomes egípcios. O nome clássico
resultante para este mestre construtor significaria então “menino de Hiram” ou “o filho de Hiram”. É desnecessário dizer que os
títulos Hiram- saf, que significa “o filho de Hiram” e Hiram Atif, que significa
“Hiram é meu pai”, no fim das contas significam a mesma coisa.
Esse
mesmo tipo de sufixo foi usado nos nomes Osarseph
(Osiris-saf) e Peteseph (Ptah-saf) nas
palavras de Manetho[3],
indivíduos que foram identificados como sendo os patriarcas bíblicos Moisés e José, respectivamente. Em cada caso, o título levou o prefixo do
nome de um deus, Osíris ou Ptah, de forma que os títulos desses
patriarcas bíblicos foram “Filho de Osíris” e “Filho de Ptah”, respectivamente.
Ambas
as versões egípcia e bíblica do nome Hiram
foram seguidas nessa mesma tradição, e o título real desse arquiteto chefe de Tebas (ou Tiro?) foi Hira-m-Atif
(Hiru-m-Atif), que significa “Hórus é
meu pai” ou até “Filho de Hórus”. As tradições maçônicas dessa época parecem
ter traduzido à palavra egípcia Atif,
que significa “pai” para o correlato “Abif”, presumivelmente a pronúncia hebraica
para a palavra “pai”' (abi)
representou um ponto importante nesta escolha.
Tendo
feito isso, contudo, essas mesmas tradições maçônicas de alguma maneira conseguiram
manter o glifo egípcio de víbora “f”, e assim substancialmente preservaram as
ortografia e pronúncia originais da palavra egípcia Atif, os elementos do nome ficariam assim dispostos:
Significado real
|
Egípcio
|
Hebraico
|
Maçônico
|
Hórus
|
Hiru
|
Hira
|
Hira
|
É
|
M
|
M
|
M
|
(meu)
pai
|
Atif
|
Abi
|
Abiff
|
A
versão bíblica desse mesmo nome foi traduzida novamente como “Hiram é meu pai”, com o significado
exato da palavra Hiram perdido em
algum lugar na tradução. Essa confluência tanto na pronúncia como no
significado poderia demonstrar que o arquiteto bíblico chamado Hiram teria uma herança egípcia e então,
mais uma vez, esses dois arquitetos chamados Hiram deveriam ser considerados como sendo a mesma pessoa.
A PEDRA
A
discrepância restante que permaneceria entre o Hiram Atif bíblico e o egípcio
é que a Bíblia diz que ele veio de Tiro, no Líbano, e o monólito de Silsileh
deduz sua origem do Alto Egito. A
resposta para esse pequeno problema foi dada por Heródoto, que menciona que, nessa época, os habitantes de Tiro tiveram uma grande presença na
cidade de Mênfis, que está localizada
exatamente ao sul de Giza. Os faraós
que Heródoto menciona são Pheron e Proteus, a quem ele insere entre Seti e Ramsés. Algo
pertinente à questão ocorreu na época do faraó chamado Pheron, que foi o primeiro na lista dos faraós da Bíblia nessa época. Heródoto diz:
Há uma
circunscrição (templo) sagrada deste faraó em Mênfis, que é muito bela,
ricamente adornada, situada ao sul do grande templo de Hephaestus. Fenícios da
cidade de Tiro habitavam toda a circunscrição, e o lugar todo é conhecido pelo
nome “Campo dos Tironianos”.
No
Novo Testamento, um número de
indivíduos notáveis, de Pedro a Jesus, foi conhecido como “rochas” ou “pedras”.
De maneira semelhante, a referência aqui à cidade de Tiro pode não ter nada a ver com a cidade de Levante[4] e
tudo a ver com pedras. A razão para isso é que o nome hebraico para a cidade de
Tiro é Tsor que também significa “rocha” ou “pedra”'.
Como
Gibraltar, Tiro também foi conhecida
como a “Rocha”, “O campo dos Tironianos” seria nada mais do que uma alusão à localização
do arquiteto e então essa passagem está simplesmente dizendo que um grupo com expedientes
maçônicos habitava Mênfis nesta época.
Contudo,
esse grupo de pessoas não era simplesmente de sacerdotes e administradores. Os
arquitetos esotéricos da época eram igualmente habilidosos e úteis no mundo
real da manufatura e construção, porque eles guardavam dentro de seu coeso
grupo, os segredos da astronomia, da alquimia, da geometria e da matemática. Em
cada caso, não surpreende que um dos mestres de posição mais elevada dessa
época também guardava a profissão de um arquiteto secular e era um habilidoso
caldeireiro, capaz de modelar as colunas de bronze Jaquim e Boaz.
Visto
que a palavra hebraica Tiro (tsor) significa “rocha”, a “cidade de Tiro”, de onde se supõe que Hiram Atif seria oriundo, possivelmente não tem nada a ver com a cidade
de Tiro no Líbano e sim com a pedreira na qual esse arquiteto trabalhou.
Quando a Bíblia diz que “o pai de Hiram
foi um homem de Tiro”, isso realmente significa que “o pai de Hiram foi um minerador”. Igualmente,
quando os textos bíblicos indicam que “o Rei Salomão levou Hiram para fora de Tiro”,
poderia ser interpretado como “o Rei Salomão tirou Hiram das minas”. Isto faria
perfeito sentido para um arquiteto cujo principal material de trabalho era pedra
e cujos registros e genealogia ainda estão preservados nas pedreiras (ou minas)
do Alto Egito.
De
fato, deve ter havido outro motivo para o equívoco nesse registro histórico,
porque, embora a cidade de Tiro no Líbano fosse conhecida em hebraico como Tsor, em egípcio foi na verdade
conhecida como Tchar. Mas houve outra cidade que foi igualmente famosa nessa
época, e esta era Thar, que foi o nome para a cidade de Tânis, a capital original da 21ª dinastia. De fato, não era incomum
que seus glifos fossem confundidos e se tornassem permutáveis, então havia muito
espaço para alguma confusão, premeditadamente ou não, entre esses dois nomes e
essas duas cidades. De fato, a última tradução hebraica da palavra tsor (Tiro) como “rocha” pode muito bem ter sido derivada da palavra
egípcia thar, que significa “castelo” ou “fortaleza”. Tânis foi, por necessidade, uma fortaleza e, sem dúvida,
cidades-fortaleza como Tiro usaram o
mesmo título.
Embora
a cidade ilha de Tiro seja uma
realidade histórica, não há evidências de que um Rei Hiram de Tiro
tenha existido. Uma razão perfeitamente razoável para isso pode ser que, já que
o termo “Tiro” na verdade faria
referência a uma pedreira ou mesmo à cidade de Tânis, o “rei” Hiram mais
velho na verdade pode ter sido um arquiteto que residiu em Tânis. Esse Hiram mais
velho foi chamado de “Melek Hiram”, que foi traduzido como “Rei Hiram”,
mas o termo melek também foi
utilizado em um texto bíblico posterior para denotar um príncipe, então é
inteiramente possível que esse Rei Hiram
fosse na verdade um Príncipe Hiram de Tânis. Também é
possível que esse Príncipe Hiram fosse realmente o pai do arquiteto
chefe chamado Hiram Atif, que modelou as duas grandes colunas
de bronze e terminou a construção do Templo.
Então, nesse caso, ambos os personagens seguiram a mesma posição exaltada de Maçom e Arquiteto.
ARTESÃO E PRÍNCIPE
Outras
evidências para alta posição de Hiram
vêm da genealogia dos arquitetos chefes do Egito,
uma lista completa de nomes que abriga o período da época de Ramsés II até o reino do faraó Darius II, e que estava inscrita em uma
rocha na pedreira de Wadi Hammamat.
Essa cronologia de fato indica que havia dois arquitetos chamados Hiram (Atif), e que ambos foram arquitetos do faraó Sheshonq I, mas, mais do que ser pai e filho, esse documento indica
que eles na verdade eram pai e neto. O fato dessas pedreiras e inscrições
estarem a leste de Tebas também
poderia sugerir que o Rei ou Príncipe Hiram mais velho estava intimamente associado à Tebas, bem como a Tânis.
O
outro documento histórico que menciona Hiram
Atif, que foi deixado nas pedreiras
de Silsileh, indica que Hiram foi enviado para lá por Sheshonq I para cortar as pedras para o Templo de Karnac. Então os textos
bíblicos e egípcios concordam entre si, e levam essa história escrita a um
estágio adiante, dizendo que Hiram Atif foi subsequentemente evocado dessas
pedreiras pelo comando real e enviado para construir outro Templo. De acordo com o texto histórico, a nova encomenda de Hiram Atif foi o Templo de um
Milhão de Anos de Sheshonq I em Mênfis(?), ao passo que os textos
bíblicos notam que sua tarefa na verdade fosse construir o grande Templo de Salomão em Jerusalém.
Hiram não seria apenas um
pedreiro, ele também era igualmente habilidoso ao trabalhar de metal, sendo
bronze a sua especialidade. As ligações que foram forjadas nas explicações comuns
dessa época, entre o arquiteto chefe chamado Hiram Atif e a cidade de Tiro, foram reforçadas pelo conhecimento
e habilidade de trabalhar no metal dos palestinos. Estes habitaram a costa
oeste de Levante ao sul da Fenícia, e quais se acreditavam ser metalúrgicos de
alta qualidade, e então a ideia de que Hiram
era originário do oeste de Levante não era ilógica. Contudo, essa não era a
única região nessa época que produziu metalúrgicos de excelência. O trabalho em
metal dos metalúrgicos egípcios, particularmente os da 21ª e 22ª dinastias, era
de um padrão muito mais alto do que o dos filisteus, como os historiadores
prontamente admitem:
Talvez a
contribuição mais permanente da (21ª e 22ª dinastias) às artes e ofícios esteja
no campo do trabalho em metal. Os caixões de prata dos reis Psusennes [II] e
Sheshonq [I] e a grande variedade de vasos de ouro e prata e joias das tumbas
da realeza de Tanita testemunham a continua habilidade dos trabalhadores em
metal egípcios... De grande significância foi à imensa expansão e excelência
técnica da escultura de metal que ocorreu durante esse período... A maior parte
em bronze.
O
resultado da solicitação desse novo arquiteto chefe demonstra que ele e seus companheiros
estavam gerações à frente de seus rivais de Tânis
em tecnologia e habilidade. A conclusão é que essa distinção no trabalho em
metal resultou da chegada de Hiram Atif (Abiff)
de Tiro e seus companheiros metalúrgicos, e que eles foram de fato “hábeis
em ouro, prata e bronze”.
A
propósito, uma vez que o sarcófago de prata de Sheshonq I foi feito com a imagem de um falcão, e visto que o nome
bíblico de Hiram Atif significa “O Deus-Falcão Hórus é Meu Pai”, outra ligação entre
esses dois arquitetos, pode ser vista. Uma vez que um sarcófago com formato de
cabeça de falcão é bem exclusivo para um monarca egípcio, isso pode ajudar a
entender que este não era o sarcófago de Sheshonq
I.
Esse
sarcófago espetacular com o formato de cabeça de falcão feito de prata teria
sido muito mais apropriado como o último lugar de descanso do arquiteto chefe Hiram Atif, que foi conhecido como o “Filho de Hórus”. É bem possível
que, durante o sepultamento de Sheshonq I
que ocorreu em circunstâncias adversas, os administradores chefes do cemitério
tivessem confiscado o sarcófago de Hiram[5].
As placas de inscrição nesse caixão confirmam que este foi o enterro de Sheshonq I, mas esses títulos e nomes
poderiam facilmente ter sido adicionados no último momento por qualquer trabalhador
de metais competente.
A
identificação do arquiteto chefe bíblico Hiram
Atif como sendo o arquiteto chefe de Sheshonq I, que também foi conhecido
como Hiram Atif, parece se bastante plausível. Mas não é apenas a evidência
epigráfica da pedreira de Silsileh
que aponta para um artífice mestre sendo empregado para o trabalho de fundição de
um Templo, a evidência arqueológica
também aponta para essa direção. Beno
Rothenberg[6]
conduziu uma investigação dos trabalhos de cobre em Timnah[7],
bem ao norte de Elat. As conclusões
dessa escavação foram que essas minas e trabalhos de fusão foram executadas pelos
egípcios dos séculos XX ao XIV A.C, um período durante o qual os israelitas
devem ter estado na Palestina. Mais adiante
é dito que:
...uma questão
mais interessante é se o curto período de operações que aconteceram no século X
teve alguma coisa a ver com os israelitas... Rothenberg (originalmente)
concordou que a mineração e fusão aconteceram em Timnah no comando de Salomão...
Porém,
Rothenberg declara que a última fase
foi devida à iniciativa da 22ª dinastia, qual está inserido o governo de Sheshonq I. O problema para Rothenberg foi que a história bíblica
dessa época exigiu grandes quantidades de bronze (uma liga de lata de cobre),
ao passo que a data arqueológica incongruentemente nos presenteia com a
evidência da fusão do cobre egípcio nos lugares de posse dos israelitas. Então,
esses trabalhos de fusão de minérios foram do povo de Judá ou dos egípcios? A resposta para esse problema seria simples
se visto por outra ótica, é que a construção do Templo e dentre outras demandas por metais da época foi
essencialmente egípcia.
Nesse
caso, a hipótese de que o trabalho em metal em Timnah fora conduzido pelos egípcios durante o reinado de Sheshonq I e a exigência bíblica de que
esse metal fosse utilizado no Templo de
Salomão em Jerusalém são dois lados da mesma moeda.
Embora
as evidências que foram reunidas até agora pareçam indicar esse trabalho em
metal no Templo de Salomão sendo organizado e projetado
pelo arquiteto chefe egípcio conhecido como Hiram
Atif, ainda há mais evidências para demonstrar
que esse argumento seja plausível.
O
nome Hiram Atif foi escrito com um elemento extra na sua grafia, a
representação de uma coluna chamada “Djed”. O resultado desse glifo extra é que
o nome agora se torna:
Heru
(Hira)
|
O
deus-falcão Hórus
|
M
|
é
|
Djed
|
coluna
|
Atif
|
pai
|
A
grafia de “Djed” neste caso específico é acompanhada de um traço único indicando
que é a coluna “Djed” real que se quer nesse glifo, e não qualquer outro significado,
e a razão para isso é dada na Bíblia.
Surpreendentemente, os relatos bíblicos creditam a Hiram Atif a construção das
duas grandes colunas de bronze no Templo
de Salomão, Jaquim e Boaz, enquanto os relatos históricos agora associam Hiram Atif diretamente com a coluna “Djed”.
Esses
petróglifos como na mina de Wadi Hammamat
apenas eram inscritos quando cada arquiteto chefe era afastado ou estava morto,
assim como os sacerdotes cristãos fazem em suas igrejas hoje em dia. Desde que Hiram Atif tornou-se famoso por seu trabalho nas duas grandes colunas no Templo de Jerusalém, sua inscrição
tumular nessa genealogia tornou-se “Hiram Atif da Coluna Djed”.
Não
apenas essa é uma outra indicação correta de que esses dois Hiram Atifs, dos registros bíblico e egípcio, foram um e o mesmo, essa
também é uma boa indicação de que as duas colunas de Jaquim e Boaz realmente se
pareciam. Nas condições mais claras possíveis, a evidência está demonstrando
que as duas colunas que estavam localizadas na entrada do Templo de Salomão foram duas
monumentais colunas “Djed”. O principal significado das colunas “Djed” era “estabilidade”,
e isso pressupunha a estabilidade da nação e da monarquia que governava aquela
nação.
É
bem possível que as duas colunas construídas no Portal Bubastita[8] em
Karnac fossem planejadas para serem réplicas das duas colunas que ornamentaram
o Templo de Salomão. Se for assim, então o desenho dessas colunas pode dar uma percepção
a mais para a simbologia da coluna “Djed”. Diz-se que as colunas no Portal Bubastita
são representações de “Flores de Lótus Fechadas”[9], e
esse desenho é uma característica comum dos templos egípcios. É bem possível,
porém, que, uma vez que a teologia egípcia tratou de fertilidade e cópula, esse
desenho em vez disso representasse um falo.
O
elemento “estabilidade” da coluna “Djed” poderia, então, inferir na estabilidade
da monarquia e da população que foi gerada pela paternidade da geração
seguinte.
CONCLUSÃO
Como
um resumo dessa peça, talvez valha a pena sinalizar as várias semelhanças que
foram reveladas entre esses dois arquitetos chamados Hiram:
a.
Ambos os arquitetos foram
chamados Hiram Atif;
b.
Ambos os nomes continham um
sufixo que significa “pai”;
c.
Ambos trabalharam como
arquitetos chefe para o rei;
d.
Ambos os reis são conhecidos
por ter governado exatamente na mesma época;
e.
Ambos os arquitetos foram
chamados para construir um templo para o rei;
f.
Ambos tiveram um familiar
mais velho com o mesmo nome;
g.
Ambos estavam associados a pedras
ou a uma pedreira (Tiro);
h.
Ambos estavam associados a colunas.
Então,
aqui estaria à história real do herói maçônico Hiram Abiff (Hiram Atif), entregue diretamente dos textos egípcios e bíblico em
detalhes. A escassez desse tipo de informação nas fontes maçônicas seculares e
a desordem das informações que circulam mostrariam o quanto da Tradição pode ter se perdido com o
passar dos séculos.
Por
que o mundo maçônico deveria honrar um arquiteto chamado Hiram Atif mais do que os
personagens mais importantes dessa época, como o Rei Hiram ou o Rei Salomão que também contribuíram na
construção do Templo? Uma resposta para isso é que Hiram Atif também seria
um príncipe, mas um príncipe que caiu nas graças da corte real de Tânis. Esse herói maçônico, Hiram Atif, não seria um personagem sombrio derivado do folclore duvidoso
e da mitologia. O arquiteto chefe do Rei Salomão,
que supervisionou a construção do Templo
de Jerusalém e projetou suas grandes colunas de bronze, seria na verdade
foi o arquiteto chefe dos faraós Psusennes
II e Sheshonq I, que supervisionou a
construção do Templo de um Milhão de Anos...
Autoria de Tiago Roblêdo M\ M\
Visita Interiora Terrae Rectificando Invenies Occultum Lapidem
REFERÊNCIAS
As
Chaves de Salomão: O Falcão de Sabá, Ralph Ellis
A
Chave de Hiram, Christopher Knight e Robert Lomas
[1]
Nas
linguagens mais remotas as vogais não eram escritas (não havia símbolos que as
representasse), elas eram inseridas entre as consoantes da palavra quando lida
para formar um nome, mas, se a verdadeira pronúncia deste nome fosse
desconhecida essa inserção de vogais era baseada em suposições. No caso as
consoantes HRMSF poderiam formar tanto HaReM(SaF) quando HiRaM(SaF) e até mesmo
HuRaM(SaF).
[2]
Esta
palavra geralmente é soletrada e pronunciada como itif (supondo-se suas
vogais), a ortografia “F” aqui está usando apenas uma forma abreviada da
palavra. O s ou sa que completam o nome Hiramsaf é baseada numa versão
alternativa da tradução.
[3]
Manetho
foi um historiador e sacerdote egípcio natural de Sebenitos (em egípcio antigo,
Tjebnutjer) que viveu durante a era ptolemaica durante aproximadamente o século
III A.C., embora alguns historiadores afirmem que ele seria natural de Roma, e
teria escrito sua obra por volta de 200 D.C.. Manetho escreveu a Aegyptiaca
(História do Egito), em grego, obra de grande interesse para egiptólogos, que
frequentemente é utilizada como evidência para a cronologia dos faraós.
[4]
Levante
é um termo geográfico impreciso que se refere, historicamente, a uma grande
área do Oriente Médio ao sul dos Montes Tauro, limitada a oeste pelo
Mediterrâneo e a leste pelo Deserto da Arábia setentrional e pela Mesopotâmia.
O Levante não inclui a Península Arábica, o Cáucaso ou a Anatólia (embora às
vezes a Cilícia seja incluída). De uma forma geral, a região se resume à Síria,
à Jordânia, a Israel, à Palestina, ao Líbano e a Chipre. Outras fontes definem
o Levante de uma maneira mais ampla, incluindo porções da Turquia, do Iraque,
da Arábia Saudita e do Egito.
[5] O que também reforçar
certa ideia de descarte de seu cadáver como o narrado na Lenda de Hiram Abif.
[6] Diretor do
Institute for Archeo-Metallurgical Studies no University College em Londres.
[7]
Timnate
ou Timnah era uma cidade filisteia em Canaã que é mencionado na Bíblia Hebraica
em Juízes 14. Ela foi identificada como Tel Batash localizada no Vale Sorek, próxima
a Moshav Tal Shahar, Israel.
[8]
O Portal
Bubastita Portal está localizado em Karnac, no complexo do templo do Local de
Amon-Rá. Ele registra as conquistas e campanhas militares de 925 A.C em Israel por
Shoshenq I.
[9]
Numa
das narrativas da mitologia egípcia, do oceano primevo emergiu uma ilha, onde
mais tarde seria construída Hermópolis. Nesta ilha existia um poço, no qual
flutuava uma flor de lótus e onde viviam os oito deuses primordiais. As
divindades masculinas ejacularam sobre a flor e fecundaram-na. A flor de lótus
fechou-se durante a noite e quando se abriu de manhã dela saiu o deus Rá na
forma de um menino que criou o mundo. Este conta reforça o caráter de
fertilidade associado ao lótus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário