quinta-feira, 7 de novembro de 2013

ROMA E OS COLÉGIOS DE OFÍCIOS



No Monte Palatino, se estabeleceu em meados do século VIII antes da era atual, um povo que daria origem a Roma, a Cidade Eterna berço do império Romano. 
Diversos autores reuniram dados e deram forma literária às lendas sobre a fundação da cidade, que se fixou convencionalmente no ano 753 a. C. Entre essas lendas a que o fundador da cidade, Rômulo, descendente do herói troiano Enéas, foi amamentado em sua infância, junto com seu irmão Remo, por uma loba que se transformou no símbolo da cidade. 
A lenda menciona que Numa Pompílio, suposto segundo rei de Roma, organizou o exército e criou os célebres Colégios de Construtores alistados nas Legiões Romanas que estiveram acantonadas no Oriente Médio no século VII a.C. 
O Mitraísmo foi uma das mais ricas associações iniciáticas da antiguidade, tanto por sua organização simbólica como pela qualidade de suas fraternidades que asseguravam uma grande coerência com a instituição. Os templos de Mitra estavam decorados para simbolizar o cosmos; em sua abóbada estava pintado o firmamento estrelado. Os templos Maçônicos atuais são quase idênticos àqueles templos da época Mitráica. 
Desde a iniciação, na qual o postulante sofria as provas dos quatro elementos, o ritual que nos transmite a história é muito próximo do atual ritual Maçônico que usamos hoje. A dita cerimônia se realizava em uma sala subterrânea, sendo seguida de um ritual simbólico de morte e ressurreição. 

Os adeptos de Mitra recebiam ensinamentos com base na astrologia, nas relações do homem com o universo e nos rudimentos da linguagem dos mistérios. Nos mistérios de Mitra, se praticava um batismo em forma de um banho com o sangue de um touro sacrificado. 
Glorificando e santificando o trabalho e protegendo os artesãos, o Mitraísmo inicia em seus mistérios muitos arquitetos que propagaram suas ideias nas primeiras corporações de construtores; tal como Vitruvio, letrado geômetra, desenhista e filósofo romano, venerado pelos pedreiros medievais, que afirmava: “... aqueles que não utilizaram a mão no trabalho não poderiam jamais alcançar a perfeição...” Ele da aos séculos seguintes a definição do que devia ser um Mestre Arquiteto: “... o espírito sem o trabalho e o trabalho sem o espírito, não renderá jamais um obreiro perfeito...” (Aubourg Dejean Raymond Francois, Los Hijos de la Luz, Obra traducida del francés y editada por la Muy Resp:. Gran Logia de Colombia y Resp:. Logia Veritas Vincit Nº 13 del Or:. De Santa Fé de Bogota como homenaje a los 75 avo. Aniversario de la Gran Logia de Colombia, Año 5998 E:.M:., Pág. 24). 
Os escritores alemães Krause, Heldmann e outros, anunciaram ao mundo pela primeira vez a relação que existia entre os Colégios Romanos de Construtores e a Sociedade dos Maçons. 
A teoria de Krause sobre este assunto se encontra principalmente em sua obra intitulada “Die drei altesten kunsterkunde”. Afirma ele que a doutrina da Maçonaria tal como existe agora, com todas as suas características religiosas e sociais, políticas e profissionais, sua organização interior, suas formas de ideias e ações, se deve aos Colégios de Artífices ou Collegii Artificium de los Romanos, que passaram com muito poucas mudanças às Corporationen Von Baukunslern, os “Grêmios Arquitetônicos”, da Idade Media até a organização inglesa de 1717. 
É a Numa Pompílio, o segundo rei de Roma a quem os historiadores, após Plutarco, atribuem à primeira organização dos Colégios de Ofícios Romanos; embora segundo algumas conjecturas razoáveis, seja provável que uma organização semelhante existisse anteriormente entre os habitantes albaneses, compreendendo assim os artífices toscanos residentes. Porém é de admitir-se que Numa lhes proporcionou essa forma que foi conservada sucessivamente. 
Numa Pompílio, ao subir ao trono, encontrou os cidadãos divididos em várias nacionalidades, as que provinham dos romanos, os sabinos e os habitantes originados de outros povos e lugares próximos de pouca importância, a quem por um ato de preferência ou pela força, se lhes fez trocar de residência para as beiras do Tibre. Isto deu origem a uma separação de ideias e opiniões e a uma ideia constante de desunião. Porém, o objetivo de Numa era o de destruir por completo estes elementos rivais e de estabelecer uma identidade perfeita de sentimento popular, de tal maneira que poderíamos usar a frase de Plutarco, que são apropriadas: “a distribuição dos povos pode constituir uma mescla harmoniosa de todos e para todos”. 
Com esse objetivo estabeleceu uma religião comum e dividiu os cidadãos em cúrias e tribos consistindo assim um corpo mesclado indiferentemente dos romanos, sabinos e de outros estrangeiros naturalizados de Roma. 
Conduzido pela mesma sagacidade política, distribuiu aos artesãos em vários grêmios e corporações com o nome de Collegia ou “colégios”. A cada colégio foram alistados artesãos de ofício particular e cada um tinha seus regulamentos locais, seculares e religiosos. Estes colégios se desenvolveram com a mesma rapidez que a República, estabelecendo Numa desde o início, nove Colégios, sendo estes o Colégio de Músicos, de Ourives, de Carpinteiros, Pintores, Sapateiros, Curtidores, Forjadores, de Oleiros e o nono composto de todos os artesãos que não eram aptos a estes ofícios, e que por isso não estavam compreendidos nos títulos anteriores, e que posteriormente aumentaram em grande número. É certo que foram abolidos, ou trataram de aboli-los por volta dos anos oitenta antes da era cristã, por um Decreto do Senado que observou com zelo sua influência política, porém voltaram vinte anos depois, estabelecendo-se de novo através de uma lei do tribuno Cláudio, que revogou a anterior. Continuaram ativos no baixo império, estendendo-se nas províncias e sobreviveram até a decadência e queda do Império Romano. 
Bem, agora, investiguemos a forma e a organização destes colégios e ao mesmo tempo tratemos de determinar a analogia que existe entre eles e as Lojas Maçônicas. 
A primeira regulamentação, que era indispensável, consistia em que nenhum Colégio poderia se formar com menos de três membros. Tão indispensável era essa regra que a expressão três faciunt collegium (três formam um colégio), chegou a ser uma máxima da lei civil. Era, do mesmo modo, tão rígida a aplicação desta regra que o corpo de cônsules que eram nomeados “colegas”, e que possuíam e exerciam todos os direitos colegiados, nunca foram reconheci-os legalmente como Colégio, pela razão de que eram constituídos somente dos seus membros. Se surpreenderá facilmente o leitor com a identidade entre este regulamento dos Colégios e os da Maçonaria, que com igual rigor requeria três Maçons para abrir a Loja. O Colégio e a Loja requerem igualmente três membros para se tornarem legais. Um número maior pode proporcionar-lhe mais eficiência, no entanto não pode fazê-la mais legítima. Isto, então, é a primeira analogia que existe entre as Lojas dos Maçons e os Colégios romanos. 
Esses colégios tinham seus respectivos oficiais, a quem se assemelhavam muito singularmente em condições e deveres aos Oficiais da Loja maçônica. Cada Colégio era presidido por um chefe ou presidente, cujo título de Mestre se traduz exatamente pela palavra inglesa “Master”. Os oficiais imediatos eram os “decuriones”. Esses decuriones eram análogos aos “Vigilantes” maçônicos, pois cada um dos “decúrios” presidia uma seção ou divisão do Colégio do mesmo modo em que encontramos na maior parte dos rituais ingleses antigos e continentais, a Loja dividida em duas “colunas”, onde cada uma delas é presidida por um dos Vigilantes, através dos quais se transmitia as ordens do Mestre aos Irmãos da sua coluna. Havia também nos Colégios um Escrivão ou “Secretário” que lavrava o registro dos procedimentos; um Tesoureiro, que tinha seu cargo situado ao fundo da Loja ou da “comunidade”; um Tabelião ou guardador dos arquivos, equivalente ao arquivista moderno (Chanceler) e finalmente, como estes Colégios combinavam a adoração religiosa e singular com seus trabalhos ordinários, havia para cada um deles um sacerdote que dirigia as cerimônias religiosas e era exatamente equivalente ao Capelão (Orador) da loja maçônica. Em tudo isso, encontramos outra analogia entre estas instituições antigas e nossos corpos maçônicos. 
E mais outra se encontrará na distribuição ou divisão de classes que existia nos Colégios Romanos. Assim como nas Lojas Maçônicas que tem seus Mestres Maçons, seus Companheiros Maçons e seus Aprendizes, do mesmo modo os Colégios tinham seus Seniores (superiores), os diretores de ofício e seus trabalhadores e aprendizes. Os membros não eram chamados da mesma forma que os maçons de “Irmãos”, porque este termo foi adaptado primeiramente nos grêmios ou corporações da Idade Média e na realidade é a descendência do sentimento cristão; contudo como observa Krause, estes Colégios eram dirigidos sob o sistema de uma família, ou de forma familiar, de onde vem à afirmação de irmão que se encontra no relacionamento familiar. 
O caráter parcialmente religioso dos Colégios Romanos de Artífices constituía uma analogia muito singular entre eles e as Lojas Maçônicas. A história demonstra que se tinha outorgado um caráter eclesiástico a esses Colégios quando de sua organização por Numa Pompílio. Muitas oficinas desses artífices foram construídas nas proximidades de um templo e sua cúria, o lugar de reunião, se comunicava geralmente com o Templo. A deidade a que se consagrava o templo era adorada de forma peculiar pelos membros do Colégio adjacente e se constituía no deus protetor de sua arte ou ofício. No transcurso do tempo, havendo sido abolida a religião pagã e modificado o caráter religioso desses Colégios, os deuses pagãos foram substituídos pela nova religião pelos santos cristãos, um dos quais se adaptava sempre como o protetor dos grêmios modernos, o que, na Idade Média, tomou o lugar dos Colégios Romanos, e desta origem provém entre os maçons à dedicação de suas Lojas a São João decorrente do costume semelhante que existia nas Corporações de Arquitetos. 
Esses Colégios tinham pessoas que trabalhavam de forma secreta na investigação dos neófitos antes de suas iniciações na fraternidade e das instruções místicas e esotéricas a seus aprendizes e obreiros. Eram neste conceito, sociedades secretas semelhantes às Lojas Maçônicas. 
Seus membros tinham o costume de contribuir de forma periódica ou mensalmente para o sustento do Colégio, por cujos meios se acumulavam um fundo comum para a ajuda daqueles irmãos indigentes ou para auxiliar estranhos desprovidos e pertencentes à mesma sociedade. O governo lhes permitia que tivessem sua Constituição e também Estatutos e Regulamentos. Esses privilégios cresceram paulatinamente ampliando seus direitos de tal modo que nos últimos dias do império os Colégios de Arquitetos se encontravam investidos de poderes extraordinários referentes à vigilância e a direção dos construtores. Mesmo assim a distinção tão popular que se encontra na jurisprudência maçônica entre as Lojas “legalmente constituídas” e as “Lojas clandestinas”, parece encontrar uma semelhança neste caso; porque dos Colégios que haviam sido estabelecidos por autoridade legal e que pelo mesmo tinham direito ao gozo dos privilégios de acordo com as instituições, se diziam “collegia licita” ou “colégios legais”, entretanto aqueles que formavam associações voluntárias não autorizadas por decreto expresso do senado ou do imperador se chamavam “collegia ilícita” ou “colégios ilegais”; Os termos lícito e ilícito equivaliam exatamente em sua importância às Lojas constituídas e as Lojas clandestinas da maçonaria. 
Nos Colégios os candidatos à admissão eram eleitos do mesmo modo que nas Lojas maçônicas, através da votação de seus membros. Em relação a este assunto a palavra latina que se usava para expressar a arte da admissão ou recepção é digna de consideração. Sempre que alguma pessoa era admitida na Fraternidade do Colégio, se considerava cooptado pelo colégio. Ademais, o verbo cooptar, empregado quase que exclusivamente pelos romanos para significar a eleição no Colégio, provém da palavra grega optomai que significa “ver, contemplar”. Esta mesma palavra dá origem, em grego, à palavra opoptes, espectador ou observador, ou aquele que adquiriu o último grau nos mistérios Eleusianos; em outras palavras, iniciado. Assim é que, sem exagerar muito a ingenuidade etimológica, poderíamos dizer que cooptatus in collegiu significava “ser iniciado no Colégio”. Isto é ao menos singular, pois a interpretação mais geral de cooptatus é “admitido ou aceito na Fraternidade”, ou o mesmo que “livre para os privilégios do grêmio ou corporação” e resulta que a ideia é a mesma tal como se transmite entre os maçons o titulo de “livres e aceitos”. 
Sabemos por Krause que estes Colégios de obreiros faziam uso das ferramentas de sua arte ou profissão na forma simbólica, em outras palavras, que cultivavam a ciência do simbolismo; é neste sentido, com efeito, mas que em nenhum outro se encontra numa analogia surpreendente entre os colegiados e as instituições maçônicas. O que temos manifestado não pode ser negado, pois como a organização dos Colégios estava envolta, como já foi demonstrado, do caráter religioso, e tal como se admite que toda a religião do paganismo era eminentemente simbólica, em consequência toda a associação que estava baseada ou cultivava este sentimento mitológico ou religioso, deve cultivar também o princípio do simbolismo. 
Na organização e no modo de governo e das práticas dos Colégios Romanos existe uma analogia entre eles e as Lojas maçônicas modernas que é evidentemente mais que acidental. É de supor-se que muito depois da dissolução dos Colégios, a maçonaria, na fundação de suas Lojas, intencionalmente adaptou a organização colegiada como um modelo pelo qual estabelecera seu próprio sistema, ou pode acontecer que dita semelhança tem sido o resultado de uma sucessão de associações originadas entre si nas mesmas que figuram no primeiro momento do término dos Colégios Romanos. Porém ainda não se conseguiu determinar se as Lojas devem sua origem aos Colégios só por sua forma ou pela forma e conteúdo. 
No tempo de Numa Pompílio, os Colégios Romanos eram apenas nove. Nos anos subsequentes à República o número aumentou consideravelmente e quase todos os graus e profissões tinham o seu colégio particular. Com o progresso do império, seu número foi muito maior e seus privilégios se estenderam notavelmente ao ponto de constituir um elemento importante nos corpos políticos. 
Os romanos se distinguiram pelo espírito de colonização. Tão logo com suas armas vitoriosas haviam subjugado a um povo, antes de tudo se designava uma parte do exército para que fosse formada uma colônia. Então, o barbarismo e a ignorância dos habitantes ativos eram substituídos pela civilização e pelo progresso de seus conquistadores romanos. 
Os Colégios de Construtores, ocupados nas obras de edifícios seculares e religiosos, se expandiram da grande cidade até os municípios e províncias, Sempre que se construía uma nova cidade, um templo ou palácio, os membros destas corporações eram convocados pelo Imperador dos pontos mais distantes para que a comunidade de trabalhadores tomasse parte da construção. Os obreiros eram empregados no mesmo sentido que os “peões de cargo” do templo judaico nos trabalhos mais grosseiros e humilhantes, porém a vigilância e a direção das obras eram confiadas unicamente aos “membros aceitos” – “os cooptati” – dos Colégios. 
As colonizações do Império Romano foram dirigidas pelos soldados legionários do exército. A cada legião se agregava um Colégio ou corporação de artífices que se unia com a legião em Roma, a que acompanhava nas campanhas, acampando onde a legião acampava e marchando sempre a seu lado, e quando colonizava permanecia na colônia para plantar a semente da civilização romana e ensinar os princípios de sua arte. Os membros do colégio construíam fortificações para a legião no tempo de guerra, e em tempo de paz, ou quando a legião permanecia estacionária, construíam templos, casas e infraestrutura de irrigação. 
Semelhante à Grécia, os artesão romanos ocupavam um lugar humilde na sociedade romana. Porém, os Colégios eram muito diversos e assim temos os COLLEGIA PONTIFICUM com fins religiosos, COLLEGIA MUNICIPIUM com fins governamentais e COLLEGIA FABRORUM integrado por profissionais e artesãos, que incluíam os construtores e outros ofícios humildes como os lixeiros, pescadores, sapateiros, cozinheiros, etc. O COLLEGIA FUNERARIUM se dedicava a dar sepultura digna aos corpos. 
Issac Asimov, na obra O Império Romano – Alianza Editorial S/A – Madri, 199, pag. 93-96, nos relata a trama central de um fato que marcaria o início de mudanças importantes no mundo. Nos referimos ao Concílio de Nicéa, onde foram unificados diversos livros santos, transmitidos de forma oral e secretamente pelos Apóstolos e pelas Santas mulheres (herdeiros da tradição misteriosa trazida por Cristo), que não formavam um corpo homogêneo, que estavam divididos em grande número de pequenos grupos, de cenáculos, de capelas, de conventos, de sociedades secretas, mantendo relações uns com os outros, porém às vezes opostos entre si. Foi por essa razão que se convocou o Primeiro Concílio Ecumênico em Nicéa. No curso de suas sessões, mantidas desde 20 de maior até o dia 25 de julho de 325 d.C., os bispos se pronunciaram. 

Fonte: Maçonaria - Origem e Desenvolvimento do Ir
\ Herbert Ore Belsuzarri

2 comentários:

  1. Texto com informações preciosas. Gostei muito ,e, motiva-me ainda mais aos estudos sobre fascinante tema...grato . TFA, Ronaldo José Luiz.

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  2. realmente histórico e importante para entender o papel da escola.

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