domingo, 3 de abril de 2016

O MANUSCRITO HALLIWELL: O Poema Régio da Maçonaria




INTRODUÇÃO

O Manuscrito Halliwell ou Poema Régio é datado por volta de 1390 e composto de 794 versos com rima emparelhada em inglês arcaico, tratando do Ofício Maçônico como era praticado na Inglaterra do Século XIV. Sua autoria não é totalmente esclarecida, sendo usualmente atribuída a um clérigo que tenha sido capelão ou secretário do Ofício. Foi publicado pela primeira vez em 1840 por James O. Halliwell com o título “The Early History of Freemasonry in England”, atualmente o manuscrito encontra-se no Museu Britânico, transferido da biblioteca real (quando passou a ser conhecido por manuscrito régio) em 1757 por doação do rei Jorge II.

A suma importância dada a este manuscrito pela Tradição Maçônica vem do fato de este ser comprovadamente o mais antigo documento de Maçonaria Operativa Insular que se tem registro. Comprovadamente se frisa, pois há documentos de datação ou pertinência contestada.


\      As Obrigações Anglo-Normandas (1356), que se trata não de um documento da Maçonaria em si, mas uma legislação sobre o ofício da mesma; http://pedraoculta.blogspot.com.br/2015/02/as-obrigacoes-anglo-normandas-o.html
\      Édito de Rotário (Edictum Rothari) foi um édito promulgado (643) pelo rei da Lombardia, Rotário, cujo apenas um trecho legisla sobre o Ofício; http://pedraoculta.blogspot.com.br/2013/11/o-edito-de-rotario.html
\      A Antiga Constituição de York, adotada (926), ou Constituição Legal das Lojas Maçônicas da Inglaterra qual o original (hodiernamente se tem ciência somente de uma tradução) não foi encontrado e o texto difere um tanto dos “primos” mais próximos pondo em cheque sua datação. http://pedraoculta.blogspot.com.br/2013/11/a-constituicao-de-york.html
\      A Carta de Bolonha (1248), que por não ser de origem insular (Inglaterra/Escócia) e sim continental (italiana), tem sua pertinência ao Ofício contestada. https://bibliot3ca.wordpress.com/a-carta-de-bolonha-de-1248-e-%C2%B4-v-%C2%B4/

A CONSTITUIÇÃO DO POEMA

O Poema Régio, escrito em linguagem poética, possui uma constituição bem comum as demais Antigas Obrigações e possivelmente tenha em certo grau, servido de inspiração as mesmas ou possuindo uma fonte ancestral em comum. Seus tópicos podem ser relacionados da seguinte maneira (em ordem):

Tradição

\      A História do Ofício: Uma narrativa do porque e como o Ofício foi fundado, sua chegada à Inglaterra e posterior regulamentação.

Legislação[1]

\      Os Artigos: artigos legais que legislam, sobretudo, quanto às questões trabalhistas da Maçonaria Operativa;
\      Os Pontos: os pontos complementam os artigos e parecem ter sidos posteriormente elaborados, além de outras questões trabalhistas, abordam também as relações entre os trabalhadores do Ofício;
\      Outras ordenanças: as “outras ordenanças” regula principalmente sobre a constituição das Assembleias.

Moral

\      A Arte dos Quatro Coroados: narra à lenda dos Quatro Coroados, mártires padroeiros do Ofício como alusão a fidelidade maçônica;
\      (A Torre da Babilônia): cita a passagem bíblia da “Torre de Babel” vista no Gênesis como alusão a humildade e bom emprego do Ofício.

Instrução

\      (As Sete Ciências): relaciona as sete artes e ciências clássicas e ressalta sua importância na formação do Maçom.

Religiosidade

\      (A adoração ao Senhor): fornece instruções quanto à prática da profissão de fé pelo Maçom.

Conduta

\      (O bom comportamento): provem regras de conduta e etiqueta em geral, principalmente sobre os comportamentos entre superiores, pares e em eventos sociais.

SOBRE A TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO

O texto original por se encontrar em linguagem poética no inglês arcaico apresenta grande dificuldade para sua conversão em outra língua moderna, para auxílio desta tarefa foram empregadas 2 adaptações para o inglês moderno e 2 para o espanhol.

As rimas originais não puderam ser adaptadas por predileção à clareza e fidelidade ao texto original, alguns termos tiveram de ser traduzidos diferentemente, pois visto seu contexto, se assemelhavam a palavras diferentes em nosso vernáculo.

Título auxiliares para melhor segmentar o texto foram inseridos entre parênteses e não fazem parte do manuscrito original, assim como, foram removidas algumas quebras de linhas para dar uma melhor fluidez à leitura. Notas explicativas como de costume, foram inseridas ao longo do texto conforme necessidade de esclarecer determinadas passagens.

AQUI COMEÇAM AS CONSTITUIÇÕES DA ARTE DA GEOMETRIA DE ACORDO EUCLIDES[2]

- Tradução e adaptação por Tiago Roblêdo

Quem bem tanto ler quanto apreciar
Este antigo livro, poderá encontrar gravado
Acerca grandes lordes e também damas,
Quais eventualmente conceberam muitas crianças;
Mas não tiveram recursos para mantê-los consigo,
Nem na cidade, no campo ou na mata fechada;
Contudo reunidos, formaram uma Assembleia,
Para deliberar em benefício dessas crianças,
Como elas melhor poderiam levar sua vida
Sem maiores moléstias, carências e conflitos;
E também para as gerações que adviriam.
Então, algumas dessas crianças buscaram grandes sábios,
Para que os ensinassem as boas obras;
E por elas foi rogado, pelo amor do nosso Senhor.
Para que tais crianças tivessem algum trabalho a laborar,
Que elas pudessem assim, ganhar a vida,
Tanto bem quanto honestamente e em total segurança.
Quando então, pela boa Geometria[3],
O Ofício honesto da boa Maçonaria
Foi para isto ordenado e cumprido,
Replicado conjuntamente por esses sábios;
Nas orações destes lordes que replicaram a Geometria,
E deram-lhe nome de Maçonaria,
Para o os Ofício mais honesto de todos.
As crianças destes lordes nele se arrojaram,
A fim de aprenderem tal Ofício da Geometria,
O qual era ensinado, com todo afinco;
Pelas as súplicas de seus pais e também de suas mães,
Neste honesto Ofício foram empregados.
Aquele que melhor aprendia, e possuía honestidade,
Qual superava seus Companheiros em afinco,
E se destacava no Ofício,
Deveria ser mais venerado que os demais,
O nome deste grande sábio foi Euclides,
Cheio de alarde, seu nome era vastamente difundido.
Este grande sábio ainda havia ordenado
Que aquele que alcançasse maior avanço,
Que devesse ensinar ao de menor faculdade
Para que fosse aperfeiçoado nesse Ofício honesto;
E assim cada um deveria ensinar ao outro,
E se amarem mutuamente como irmão e irmã.
Além disso, também havia ordenado,
Que este fosse chamado de Mestre
A fim de que fosse apropriadamente venerado,
Deveria ser assim chamado;
Todavia um Maçom nunca deveria chamar a outro
Dentre todos aqueles do Ofício,
Nem de sujeito, nem de vassalo, nem de meu querido irmão,
Porquanto que nenhum não é melhor que o outro;
A cada um dos outros Companheiros deverá chamar pela amizade,
Pois de damas foram nascidos.
Desta forma, pela boa ciência da Geometria,
Começou o Ofício da Maçonaria;
O sábio Euclides deste modo fundou,
O Ofício da Geometria nas terras do Egito[4].
E no Egito, ensinou amplamente,
Em diversas terras e em todas as direções;
Muitos anos depois, é sabido,
Antes que o Ofício aqui chegasse.
Este Ofício enfim chegara à Inglaterra, como é contado,
Nos dias da época do bom rei Athelstane[5];
Ele erigiu então, tanto salões quanto caramanchões[6],
E altos templos de grande honra,
Para ocupá-lo tanto de dia quanto de noite,
E venerar seu Deus com toda sua força.
Este bom lorde amou muito bem ao Ofício,
E propôs fortalecê-lo em todos seus aspectos,
Dado as diversas falhas que havia encontrado neste Ofício;
Ele esquadrinhou sobre a terra
Em busca de todos os Maçons do Ofício,
Para que em todos a ele viessem diretamente,
A fim de corrigir todas essas falhas
Pelo bom conselho, se assim pudesse.
Uma Assembleia, então, foi constituída
Com diversos lordes em suas categorias,
Duques, condes e também barões,
Cavaleiros, escudeiros e muitos outros,
Além dos grandes burgueses daquela cidade,
Todos eles estavam lá em suas posições;
Cada um certamente ali estava,
Para deliberar os Estatutos dos Maçons,
Lá demandaram por sua faculdade,
Como poderiam os governar;
E Quinze artigos lá demandaram,
Além de quinze pontos que lá constituíram,

Aqui começa o primeiro artigo.

O primeiro artigo desta Geometria;
O Mestre Maçom deve ser de inteira confiança
Tanto firme quanto fiel e verdadeiro,
Nunca devendo se lamentar;
Pagando a seus Companheiros segundo seu custo,
Conforme viveres correntes de então, como é bem sabido;
E os pagar fielmente, sobre a vossa boa fé,
O que possam merecer;
E que seu pagamento não tome mais,
Que aquilo para qual puderam servir;
E rechaçar pelo amor ou pelo temor,
Que nenhuma parte aceite suborno;
Nem de lorde, nem Companheiro, ou de quem quer que seja,
Deles não se deve aceitar nenhuma espécie de propina;
E como um juiz manter-se reto,
Então farás a ambos a boa justiça;
E em verdade, fazendo isto onde quer que vás,
Deverás conquistar mais respeito e lucro.

Segundo artigo.

O segundo artigo da boa Maçonaria,
Como se deve agora especialmente atentar,
Que todo Mestre, que seja um Maçom,
Deva comparecer a convocação geral,
Para que possa ser dada ciência satisfatoriamente
Onde a Assembleia deverá ser realizada;
E para tal Assembleia deverá comparecer,
A menos que possua um motivo razoável,
A não ser que seja desobediente ao Ofício
Ou por dolo seja ludibriado,
Ou então que adoeça tão gravemente,
Que não possa vir a se reunir;
Qual seria uma boa razão, apropriada,
E sem engodo para cabular tal Assembleia.

Terceiro artigo.

O terceiro artigo em verdade é,
Que o Mestre não tome Aprendiz,
A menos que possa garantir bom alojamento
Para ele por sete anos, conforme é dito,
A fim de proveitosamente aprender seu Ofício;
Em um período inferior ele não estaria capacitado
Nem para vantagem dos lordes, nem dele mesma
Como podes por uma boa razão compreender.

Quarto artigo.

O quarto artigo deve ser,
Qual o Mestre bem deve observar,
De não fazer nenhum vassalo um Aprendiz,
Que não o faça por ambição alguma;
Pois o senhor qual este esteja obrigado,
Poderia retomar o Aprendiz, onde quer que esteja.
O que se em Loja se acontecesse,
Muita insatisfação ocorreria,
Caso viesse a suceder,
Tal coisa poderia insatisfazer alguns ou a todos.
Por isso todos os Maçons que lá estejam
Deverão todos em conjunto se opor.
Caso o vassalo permaneça no Ofício,
Devido os diversos infortúnios que se pode citar;
Então, para maior tranquilidade e probidade,
Que se faça um Aprendiz de condição mais elevada.
Nos registros dos tempos antigos é encontrado
Que um Aprendiz deveria ser de linhagem nobre;
E assim por vezes, a descendência dos grandes lordes
Perfilhou esta Geometria qual é de toda boa.

Quinto artigo.

O quinto artigo é muito bom,
Que o Aprendiz deva ser de descendência legítima;
Pois o Mestre não deve, por qualquer vantagem,
Fazer nenhum Aprendiz que seja inválido;
Isso significa, como podeis atentar
Que tenha todos os seus membros incólumes;
Para o Ofício seria uma grande ignomínia,
Aceitar um amputado e um coxo,
Pois um homem deficiente de nascença
Seria de pouca benesse ao Ofício.
Portanto, deve ser de conhecimento geral,
Que o Ofício requer um homem forte;
E um homem aleijado qual não teria a força requerida,
Como já é há tempos sabido.

Sexto artigo.

O sexto artigo, dele não se deve extraviar
Que o Mestre não dê ao lorde nenhum prejuízo,
Cobrando do lorde por seu Aprendiz,
Como em todo caso, cobraria por um de seus Companheiros,
Pois estes neste Ofício foram plenamente aperfeiçoados,
Porém, o outro não, e isto deve ser observado.
Logo, seria contra a boa razão,
Cobrar seu salário como faria a seus Companheiros.
Este mesmo artigo, neste caso,
Ajuíza ao Aprendiz a ganhar menos
Que os Companheiros, qual foram plenamente aperfeiçoados.
Em diversas matérias, se sabe em contrapartida,
O Mestre pode instruir seu Aprendiz,
A fim de que seu salário possa aumentar em breve,
E antes que seu encargo chegue ao fim,
Seu salário possa muito bem ser reajustado.

Artigo sétimo.

O sétimo artigo, que então está aqui,
Por completo bem contará a todos
Que nenhum Mestre pelo favor ou temor,
Não deverá vestir nem alimentar nenhum ladrão.
Ou para ladrão algum deverá dar abrigo,
Nem a aquele que matar um homem,
Nem a alguém fama duvidosa,
Para que não leve o Ofício a ignomínia.

Artigo oitavo.

O oitavo artigo assim expõe,
Que o Mestre poderia fazer bem.
Caso possua qualquer homem do Ofício,
E este não seja tão competente como deveria,
Poderá então, o substituir de pronto,
E escalar outro alguém mais competente.
Tal homem por mero descaso,
Pode prestar pouco respeito ao Ofício.

Artigo nono.

O nono artigo expõe muito bem,
Que o Mestre seja sábio e forte;
Que não trabalhe em uma empreitada,
Qual não possa tanto desempenhar quanto concluir;
E que também seja proveitoso para os lordes,
E para o seu Ofício, onde quer que vá;
E que a obra qual trabalhe seja bem feita,
Que nem ceda nem rache.

Artigo décimo.

O décimo artigo é para saber,
Dentre o Ofício, para um superior ou subalterno,
Nenhum Mestre haverá de arvorar o outro,
E sim estarem aliados como irmão e irmã,
Neste interessante Ofício, todos e quaisquer,
Quais estejam obrigados a um Mestre Maçom.
Não deverão arvorar nenhum outro homem,
Qual tenha assumido um trabalho,
A pena para isso será muito severa,
Ela custará nada menos do que dez libras,
A menos que haja alguma infração comprovada,
Contra aquele que antes havia pego o trabalho;
Salvo isso, ninguém na Maçonaria
Deverá arvorar a outro impunemente,
Contudo, se o trabalho estiver sendo executado,
De forma que a obra não progrida;
Então um Maçom poderá requerer este trabalho,
Para resguardar o proveito do lorde
Neste caso, se insto ocorra,
Nenhum Maçom devera se opor.
Em verdade, aquele que iniciou a obra,
Se Maçom bom e firme,
Terá segurança em mente
Para levar plenamente o trabalho a bom termo.

Artigo décimo-primeiro.

O décimo-primeiro artigo proferido,
Que é tanto justo quanto livre;
Pois instrui, por sua força,
Que nenhum Maçom deva trabalhar a noite,
Exceto, se for para aperfeiçoar suas faculdades,
Caso as possa aprimorar.

Artigo décimo-segundo.

O décimo-segundo artigo é de alta honestidade
Todo Maçom, onde quer que esteja,
Não deverá depreciar o trabalho de seus Companheiros,
Caso queira salvaguardar vossa honra;
Somente por palavras honestas ponderará,
Pela faculdade qual Deus proveu;
Senão retificar da forma que se possa,
Um ao outro sem nenhum melindre.

Artigo décimo-terceiro.

O artigo décimo-terceiro, assim Deus conceda ajuda,
É, caso o Mestre possua um Aprendiz,
Então que o instrua plenamente,
Para que aprenda o Ofício habilmente,
Onde abaixo do sol, quer que esteja.

Artigo décimo-quarto

O artigo décimo-quarto por uma boa razão,
Mostra ao Mestre como deve agir;
Ele não deve tomar Aprendiz para si,
A menos que diversas tarefas tenha a realizar,
Qual o possibilite dentro de sua estadia,
O permitir aprender os diversos quesitos.

Artigo décimo-quinto.

O artigo décimo-quinto põe um fim,
Para o Mestre, ele é um aliado;
Pois o assim ensina, que para com ninguém,
Deve levar uma relação dissimulada,
Nem manter seus Companheiros em seus equívocos,
Por nenhum bem que possa vir a conseguir;
Nem nenhum falso juramento os deixe fazer,
Por temor a salvação de suas almas,
Para que não leve Ofício a ignomínia,
E a si mesmos uma severa culpa.

Constituições gerais.

Nesta Assembleia foram ordenados mais alguns pontos,
De grandes lordes e também Mestres.

Primeiro Ponto.

Quem quiser aprender este Ofício e chegar a tal condição,
Deverá sempre amar bem a Deus e santa igreja,
E também ao Mestre com qual esteja,
Onde quer que vá, no campo ou na mata fechada,
E deverá amar ainda, aos vossos Companheiros,
Pois é o que vosso Ofício requer que faças.

Segundo Ponto.

O segundo ponto como é dito,
Que o Maçom labore no dia de trabalho,
Tão fielmente quanto puder,
A fim de merecer seu salário para o dia de folga,
E fielmente labutar em seu afazer,
Para bem merecer a sua recompensa.

Terceiro ponto.

O terceiro ponto deve ser rigoroso,
Como o Aprendiz deve saber bem,
O conselho de seu Mestre deve zelar e guardar,
Assim como os de seus Companheiros por um bom propósito;
Os segredos da câmara não dirá a ninguém,
Ou o que quer que façam em Loja;
O que quer que veja ou ouça lá ser feito,
Não dirá a ninguém, onde quer que vá;
Os conselhos do salão, ou mesmo do caramanchão,
Zela bem, para que engrandeça vossa honra,
A fim de que não traga desaprovação a si próprio,
E leve ao Ofício grande ignomínia.

Quarto ponto.

O quarto ponto também ensina,
Que ninguém em seu Ofício seja dissimulado;
Que não persista em nenhum erro
Qual atente contra o Ofício, e sim o renunciar;
Nem nenhum prejuízo deverá cometer
A seu Mestre, nem também a seu Companheiro;
E embora o Aprendiz possa ser relevado,
Ainda assim, está submetido à mesma lei.

Quinto ponto.

O quinto ponto é certamente,
Para quando o Maçom tomar seu pagamento
Qual o Mestre tenha designado,
Pleno de humildade o deverá receber conforme apropriado;
No entanto, o Mestre deve, por uma boa razão,
Legitimamente o avisar antes do meio dia,
Caso não vá mais o empregar,
Conforme havia sendo feito;
Contra essa ordem, não se deve opor,
Caso pense bem em prosperar.

Sexto ponto.

O sexto ponto é plenamente dado a conhecer,
Tanto pelo superior quanto pelo subalterno,
Pois tal caso poderia acontecer;
Com todo e qualquer Maçom,
A inveja ou o ódio mortal,
Amiúde eriça uma grande contenda.
Então, o Maçom deve caso possa,
Reunir ambas as partes em um dia;
Porém não deverão reconciliar nada,
Até que o dia de trabalho seja cumprido,
Ou que haja folga suficiente para fazer a reconciliação,
Afim de que tal disputa não impeça seus trabalhos;
Os reúna então para esse fim,
Para que fiquem bem perante a lei de Deus

Sétimo ponto.

O sétimo ponto, pode bem significar,
Sobre a longa boa vida que Deus dá,
Como claramente bem descrito,
Não compartilharás o leito da esposa de vosso Mestre,
Nem de vossos Companheiros, ou de ninguém,
Afim de que o Ofício não o despreze;
Nem mesmo a concubina de vosso Companheiro,
Faz não menos do que queres que façam por vós.
A pena sobre isso, saiba bem,
É permanecer como Aprendiz por sete anos completos,
Caso se perca em qualquer destas faltas
Deverá então, logo ser castigado;
Pois muita preocupação poderá advir,
Por esta falta de pecado tão mortal.

Oitavo ponto.

O oitavo ponto, certamente,
Sobre caso tomes qualquer cargo,
Ao vosso Mestre sejas fiel,
Sobre este ponto nunca deves lastimar;
E um verdadeiro mediador deverás ser
Ao vosso Mestre e aos vossos Companheiros livres;
Faças fielmente tudo o que vós puderes,
Por ambas as partes, pois esta é a boa conduta.

Nono ponto.

O nono ponto deve evocar,
Aquele que é o servente[7] do salão,
Se a câmara estiver reunida,
Cada um servirá ao outro com branda alegria;
Gentis Companheiros, deveis saber,
Que todos terão sua vez como serventes,
Semana após semana, sem dúvida,
Todos deverão ter sua vez como serventes,
Para amigavelmente servir cada um dos outros,
Como se fossem irmão e irmã;
Lá não deverá cobrar nenhum gasto
Excetuando a si mesmo desta regalia,
Contudo, todos igualmente remidos
Nesse gasto, deverão estar;
Sempre observado a bem pagar qualquer um,
Qual tenha fornecido quaisquer insumos consumidos,
Para que nenhuma queixa seja feita para vós,
Nem a vossos Companheiros em nenhuma instância,
Ao homem ou a mulher, quem quer que seja,
Pague bem e fielmente, pelo o que foi consumido;
Assim como, de vosso Companheiro toma a conta correta,
Para que faça um pagamento correto,
A fim de não levar vosso Companheiro à ignomínia,
E trazer a vós mesmo grande desaprovação.
Não obstante, a conta correta deverá fazer
Das coisas qual tenha adquirido,
Dos bens de vossos Companheiros que foram gastos,
Onde, como e para que fim;
Tais contas deverás vir a prestar,
Quando vossos Companheiros requererem que o faça.

Décimo ponto.

O ponto décimo apresenta bem a boa vida,
Para viver sem carências e conflitos;
Porque, se o Maçom vive malignamente,
E no seu trabalho for sabidamente dissimulado,
Que por falsos argumentos
Venha difamar seus Companheiros sem razão,
E por falsas calúnias de tal infâmia
Possa fazer o Ofício ser desaprovado.
E fazendo ao Ofício tal vilania,
Para este, nenhum favor será assegurado.
Nem indulgencie sua vida maléfica,
Para que não caia em carências e conflitos;
Ainda assim, não o deverá dar trégua alguma,
Até que esteja compelido,
A comparecer onde quer que seja,
Onde o for demandado, voluntariamente ou obrigado;
Na próxima Assembleia que o convocarem,
Para que compareça perante todos seus Companheiros,
E a menos que perante eles compareça,
Deverá renegar o Ofício;
Devendo então ser punido conforme a lei
Que foi estabelecida nos antigos dias[8].

Décimo-primeiro ponto.

O ponto décimo-primeiro é o da boa discrição,
Como por uma boa razão deveis saber;
Um Maçom, se seu Ofício conhece bem,
Qual, vendo o seu Companheiro desbastando uma pedra,
De forma a estragar tal pedra,
Caso possa, deve de pronto corrigir isto,
E o ensinando então o fazer corretamente,
A fim de que o trabalho do lorde não seja prejudicado,
O ensinando brandamente a maneira correta,
Com palavras justas, que Deus proveu;
Através da graça de quem mora no alto,
Com palavras doces cultive seu amor.

Décimo-segundo ponto.

O ponto décimo-segundo é de grande majestade,
Onde a Assembleia for constituída,
Deverão estar presentes Mestres e também Companheiros,
E muitos outros grandes lordes;
Deverão ainda, estar lá presente, o xerife daquela terra,
E também o prefeito daquela cidade,
Lá haverão cavaleiros e escudeiros,
E também vereadores, como se verá;
Tal ordenança, que lá for constituída,
Deverá ser obedecida na integra
Frente a qualquer homem, quem quer que seja,
Qual pertença ao justo e livre Ofício.
Se qualquer infração cometer contra ela,
Será posto sob custódia e ficará detido.

Décimo-terceiro ponto.

O ponto décimo-terceiro é de todo desejo,
Deveis jurar nunca se tornar um ladrão,
Nem socorrer algum em seu falso Ofício,
Por bem algum que o oferte,
Disto saiba ou pecará,
Não o cometa nem em benefício próprio nem por vossa família.

Décimo-quarto ponto.

O ponto décimo-quarto é plena boa lei
Para aquele que esteja vacilante;
Um bom e fiel juramento deverá prestar
A seu Mestre e Companheiros qual lá estejam;
Deve ser firme e também fiel
Onde quer que vá, a qualquer ordenança,
E ao seu lorde soberano, o Rei,
Ser fiel acima de tudo.
Aos pontos integrais aqui citados
Quais deves prestar juramento,
Todos também deverão prestar
Qualquer Maçom, voluntária ou relutantemente.
A todos pontos aqui citados deverão jurar,
Quais foram ordenados pelo bom cabedal.
Qualquer um deverá ser esquadrinhado
Todo vosso grupo, tão bem quanto se possa,
Caso alguém vier a ser considerado culpado
Em infringir qualquer um destes pontos em particular;
Que se vá em seu encalço, seja que seja,
E o submeta a Assembleia.

Décimo-quinto ponto.

O ponto décimo-quinto é pleno bom cabedal,
Para aqueles que prestaram juramento,
Foi proposto em Assembleia esta ordenança
Pelos grandes lordes e Mestres antes citados;
Sabidamente reservada aos que cometeram infrações,
Atentando contra uma ordenança vigente,
E aos artigos nesta propostos,
Pelos grandes lordes e Maçons em conjunto,
Sendo considerados culpados
Por um a um que componha a Assembleia,
E se neguem a corrigir suas falhas,
Deverão então se exonerarem do Ofício;
Sem oposição dos Maçons deste Ofício,
E ainda, jurarem nunca mais o exercer.
A menos, que de fato se corrijam,
Nunca deverão regressar ao Ofício;
E em caso de descumprimento,
O xerife logo deverá agir,
Os detendo nas profundezas da prisão,
Devido a transgressão que cometeram,
E confiscar seus bens e seus rebanhos
Por inteiros para as mãos do Rei,
Os deixando lá, ainda detidos,
Até quando seja vontade nosso Rei soberano.

Outra ordenança da Arte da Geometria.

É decretado que uma Assembleia seja constituída,
Anualmente, onde quer que seja,
Para corrigir quaisquer faltas que venham ser conhecidas
Dentro do Ofício por todo o país;
Todo ano ou cada três anos, deverá ser constituída,
Em cada lugar onde quer que se constitua;
Também deverá ser comunicado hora e lugar,
E qual local se dará a Assembleia,
Todos convocados deverão ser membros do Ofício,
Além de outros grandes lordes, como se verá,
Para corrigir as faltas das quais se mencionou,
Caso alguém as tenha cometido.
Lá todos deverão prestar o juramento,
Qual compete ao cabedal deste Ofício,
A fim estabelecer cada um de seus estatutos
Quais foram ordenados pelo rei Althelstane;
Tais estatutos que aqui se encontram
São ordenados a serem estabelecidos por todo o país,
Por respeito à autoridade,
Que foi impetrada pela dignidade.
Também a cada Assembleia que seja reunida,
Que venham ao seu bravo Rei soberano,
Requerendo da sua graça,
Que esteja coadunado em todo lugar,
Para ratificar os estatutos do Rei Athelstane,
Que por uma boa razão foram ordenados a este Ofício.

A Arte dos Quatro Coroados[9].

Oremos agora a Deus todo-poderoso,
E a sua resplandecente mãe Maria,
Para possamos preservar esses artigos,
E esses pontos integralmente,
Como fizeram esses quatro santos mártires,
Quais foram de grande honra neste Ofício;
Sobre a terra foram os melhores Maçons que poderiam,
Também foram gravadores e imagineiros.
Pois eram dos melhores obreiros,
O imperador os tinha alta conta;
E havia requerido que fizessem um ídolo
Que pudesse ser adorado em sua graça;
Tais monumento existiam naquela época,
Para condução do povo a outras leis que não a cristã.
Entretanto, fiéis permaneceram a lei de Cristo,
E ao seu Ofício confiantemente;
Adorando bem a Deus e a toda sua sabedoria,
O servindo cada dia mais.
Foram homens da verdade naquela época,
E viveram bem na lei de Deus;
Decidindo que não fariam nenhum ídolo,
Por nenhum bem qual pudessem ganhar,
Nem adorariam nenhum ídolo como seu Deus,
Nada disso fariam, embora pudessem enfurecer o Imperador;
Por que eles não rejeitariam sua verdadeira fé,
E não acreditariam na numa lei díspar,
Sem demora, o imperador os arrebatou,
E os prostrou nas profundezes de uma prisão;
Mas lá, quanto mais intensamente os punia,
Mais júbilo os era concedido pela graça de Cristo,
Logo, quando viu que nada medrava,
Então os enviou para morte;
Pelo livro podem ser conhecidos
Nas lendas dos santos,
Os nomes dos Quatro Coroados.
Sua festa é certamente,
No oitavado dia após o Dia de Todos os Santos.

(A Torre da Babilônia[10])

Poder-se-á ouvir sobre aquilo qual será narrado,
Que por grande temor muitos anos depois
Da a inundação de Noé ter desabado,
A Torre da Babilônia foi começada,
Como um trabalhado de pura cal e pedra,
Como nunca havia se visto;
Foi começada tão longa e comprida,
Que sua altura sombreava sete milhas ao sol.
O rei Nabucodonosor a fez erigir
Com magna robustez para a graça do homem,
Pois se outra inundação viesse a desabar,
Tal a obra não poderia derrocar;
Por ela tiveram muito orgulho e grande jactância
Porém todo este trabalho foi arruinado;
Quando um anjo os acometeu com diversas línguas,
De modo que nunca se soubesse o que o outro estivesse falando.

(As Sete Ciências[11])

Muitos anos depois, o bom sábio Euclides
Prodigiosamente ensinou o Ofício da Geometria plena e amplamente,
Então também o fez noutras ocasiões,
Com os muitos outros Ofícios.
Pela alta graça de Cristo no céu,
Ele ingressou nas sete ciências;
Como sabido, a gramática é a primeira ciência,
Abençoada seja a dialética, a segunda,
Certamente a terceira, a retórica,
Como é dito, a quarta é a música,
Pelo exclamado, a astronomia é a quinta,
Certamente a Aritmética, a sexta,
Põe um fim a sétima, a geometria,
Para que sejas tanto humildade quanto cortês,
A gramática em verdade é a raiz,
Quem quer que seja, a aprenderia num livro;
Porém a arte, supera tal instância,
Como o fruto supera a raiz da árvore;
A retórica afere beleza ao discurso,
E a música é uma doce canção;
A astronomia querido Irmão, enumera,
A aritmética mostra como uma coisa é igual à outra,
A geometria a sétima ciência é,
Aquela que separa a mentira da verdade, como sabido
Estas são as sete ciências,
Quem bem as emprega, poderá alcançar o céu.

(A adoração ao Senhor)

Agora, queridas crianças por vossas próprias faculdades
Abandonai o orgulho e cobiça,
E voltai vossa atenção à boa discrição,
Trazei um bom comportamento, de onde quer que venham.
Agora se roga para que prestem boa atenção,
Para isso, deverão conhecer o necessário,
Porém, ainda muito há mais a conhecer,
Além daquilo que aqui encontrarem escrito.
Se vossa faculdade vos faltar,
Orem a Deus para a provenha;
Pois como o próprio Cristo ensinou
Essa santa igreja é a casa de Deus,
Esta é constituída por nada mais
Do que pela oração, conforme dita o livro;
Lá o povo deve se reunir,
Para orar e rogar por seus pecados.
Vigiem para que não tardem a igreja,
Por cometer libertinagens as suas portas;
Então na igreja façam o devido,
Tendo em mente cada vez mais
De dia e de noite a adoração ao Senhor teu Deus,
Com todas as vossas faculdades e até mesmo vossas forças.
Para quando chegarem às portas da igreja
Dá a água benta tomar um quinhão,
E a cada gota que caia em vós
Por certo se extirpe pecado venial.
Mas primeiro convém baixar vossos capuzes,
Pelo vosso amor a quem morreu na cruz.
Quando forem à igreja,
Sem demora, elevem vossos corações a Cristo;
Sobre a cruz dirige vossos olhares, em seguida,
E ajoelhem sobre os vossos joelhos unidos,
Então orem a ele para vos empregar,
Sob a lei da Santa Igreja,
Para guardarem os dez mandamentos,
Qual Deus deu a todos os homens;
E para rezarem com voz branda
Para vos salvarem dos sete pecados,
A fim de que possam, nesta vida,
Resguardar-vos bem das carências e conflitos;
Além disso, que vos concedam a graça,
De ter um lugar nas bênçãos do céu.
Que na santa igreja renunciem as palavras vãs
De falácias gracejosas e as faltas indecentes,
E ponham de lado toda a vaidade,
E orem vosso Pai Nosso e a vossa Ave Maria;
Cuida também para que não façam balbúrdia,
Ao invés, que sempre estejam em oração;
E caso não estejam em oração,
Que não a dificulte de modo algum a ninguém.
Lá, nem fiquem de pé nem se sentem,
E sim, ajoelhem-vos sobre o chão,
E quando o Evangelho estiver sendo lido,
Levantem-vos sem auxílio das paredes,
E se benzam caso o possam,
Ao começar a Gloria a Deus;
E quanto o evangelho estiver concluído,
Mais uma vez poderão se ajoelhar,
Em ambos os joelhos levados ao chão,
Pelo amor que nos remiu;
E quando ouvir o bater do sino
Para o santo sacramento,
Jovens e velhos deverão se ajoelhar,
E juntar ambas as mãos,
E orar então desta forma,
Claro, suave, sem ruído;
“Senhor Jesus bem-vindo seja,
Em forma de pão como o vejo,
Agora Jesus pelo teu santo nome,
Protegei-me do pecado e da vergonha;
Provêm-me tanto Absorção quanto Eucaristia,
Antes que daqui me vá,
Na grande contrição pelas minhas falhas,
Que eu nunca, Senhor, morra em pecado;
E como tu advieste da virgem,
Espero nunca me perder;
Contudo quando daqui me for,
Concede-me a benção eterna;
Amém! Amém! Assim seja!
Agora doce senhora orai por mim”.
Desta forma poderão orar, ou de forma parecida,
Quando ajoelharem durante o sacramento.
Para galgar o bem, não vos contenham,
Em adorar aquele que tudo operou;
Pois um homem pode ser alegre neste dia,
Considerando que em tal dia poderá ver Deus;
Coisa certamente tão digna,
Que virtude dela homem algum poderá balizar;
De tamanho bem que esta visão fará,
Tanto que, Santo Agostinho[12] contou de pleno direito,
Que no dia que verem o corpo de Deus,
Terão plena segurança:
De comer e beber conforme vossa necessidade,
E nada vos fará falta neste dia;
Tanto juramentos quanto palavras ociosas,
Deus naquele dia também perdoará;
A morte súbita neste mesmo dia
Não ousarão temer de forma alguma;
Ainda neste dia, é prometido,
Que não perderão a visão dos olhos;
E cada passo que então darem,
Para ver aquela visão sagrada,
Serão dados de volta em vossa direção,
Quando vós estiverdes em grande necessidade;
Que o mensageiro, o anjo Gabriel,
Guarde bem a todos vós.
Desta questão agora se pode passar,
Que se conte agora, os maiores benefícios da missa:
Frequentem mais a igreja se puderem,
E ouçam a missa todos os dias;
Caso não possam ir rotineiramente à igreja,
Onde quer que estejam trabalhando,
Quando ouvirem o sino da missa,
Orem a Deus com coração plácido,
A fim de contribuir com vossa parte para aquela profissão de fé,
Que na igreja será realizada.

(O bom comportamento)

Além disso, ainda é aconselhado a vós
E a vossos Companheiros, a instruir-vos,
Sobre quando estiveres perante um lorde,
No salão, no caramanchão ou mesmo a mesa,
Devereis retirar capuz ou gorro que use,
Antes de ir a presença dele;
E por duas ou três vezes, certamente,
Devereis se curvar ante este lorde;
Fazendo-o com o vosso joelho direito,
Assim resguardará vosso respeito próprio.
Ainda sobre retirar vosso gorro ou capuz,
Não os ponha de volta até que vos seja concedido.
Durante todo o tempo que vos dirigir a ele,
Mantenhas o queixo alto com justeza e cortesia;
Assim, após vos comportar conforme instruído,
O encares gentilmente.
Mantenha quietos pés e mãos,
E age habilmente, sem vos arrastar ou tropeçar;
Evade também de cuspir ou fungar,
Fazendo tais necessidades apenas privadamente,
A fim de seres sábio e discreto,
Grande necessidade tem de vos governar bem.
Quando fores entrar no salão,
Entre bons e corteses cavalheiros,
Não pressuponha acerca de nada,
Nem sobre a estirpe ou instrução de alguém,
Nem onde sentar ou repousar,
Este é o comportamento bom e polido.
Não deixes vosso semblante se abater,
Pois o bom comportamento irá resguardar vossa condição.
Seja quem for vosso pai ou mãe,
Boa é a criança qual se comporta bem,
No salão, na câmara ou onde quer que seja;
As boas maneiras a farão um homem.
Atenta com sabedoria a posição do teu próximo,
Prestando comprimentos a cada um individualmente;
Evitando cumprimentar a todos de vez,
A não ser que vós não os conheçais.
Sobre a refeição quando posta,
Comeis justa e honestamente;
Primeiro, atentai se vossas mãos estão limpas,
Verificai se vossa faca está afiada e apontada,
Cortai inteiramente vosso pão conforme a vossa carne,
E comei da forma correta como o devido,
Caso sentais próximo a uma dignidade,
Cuja Arte seja superior à vossa,
O espere servir-se da refeição primeiro,
Antes de vós mesmo o fazer.
Não vos sirva do melhor quinhão,
Apesar de o desejar fazer;
Mantenha as vossas mãos bem e asseadas,
E nem sujes a toalha da mesa;
Não a usando para vos limpar,
Nem vossos dentes limpe na mesa;
Não vos sirva em demasiado de vosso copo,
Ainda que tenhas vontade de beber,
A fim de que vossos olhos não lacrimejem,
Pois isto não seria polido.
Atenta que não esteja com a boca cheia de comida,
Quando começares a beber ou falar.
Se perceberes que alguém bebe vos espiando,
Tomai cuidado com vossas palavras,
E sem demora interrompe vossa fala,
Esteja este, tanto bebendo vinho ou cerveja,
E também atenta para não ignorar ninguém,
Sejam quais forem as condições em que o depares;
Não falai mal de ninguém,
Caso almejais manter vosso respeito próprio;
Tais falas não devem ser proferidas.
Isto poderia vos pôr em uma situação ruim.
Contenha vossa mão em vosso punho,
E te resguarda bem do "se eu soubesse.".
Em câmara, entre as cintilantes damas
Detenha vossa língua e usa vossos olhos;
E ria sem grande alarde,
Nem incites jogos de teor indecente ou grosseiro.
E jogues apenas com os vossos pares,
Não tagareles tudo o que ouves;
E nem se vanglorie de vossas ações,
Por recompensa alguma ou deleite pessoal;
Mesmo dizendo o que queira com um discurso justo,
Ainda assim vós poderíeis vos prejudicar.
Quando vós encontrares uma dignidade,
Não deves permanecer de gorro ou capuz;
Na igreja, mercado ou nas portas,
A comprimente segundo vossa posição.
Se acompanhares uma dignidade eminente
Cuja Arte seja superior à vossa,
Deixe que vá a frente e o siga logo atrás,
Pois este é o comportamento bom e sem faltas;
Quando falarem convosco, vos mantenha calado,
Quando então se calarem, falais enfim o que quiseres,
Em vosso discurso tenha discrição,
E considera bem o que dirá;
Contudo não interrompa a discurso de ninguém,
Mesmo que este fale em virtude do vinho ou da cerveja.
Que Cristo então, de sua alta graça,
Reserve-vos tanto a faculdade quanto a oportunidade,
De ler e conhecer bem este livro,
Para obteres o Céu como recompensa.
Amém! Amém! Assim seja!
Todos nós digamos por caridade.

REFERÊNCIAS




[1] Esta seção do texto pode muito bem ter servido de base para a constituição dos Landmarks hoje utilizados pela Maçonaria Especulativa.
[2] Euclides de Alexandria foi um matemático platônico e escritor de possível ascendência grega e nascido na Síria, muitas vezes referido como o "Pai da Geometria". Além de sua principal obra, Os Elementos, Euclides também escreveu sobre perspectivas, secções cónicas, geometria esférica, teoria dos números e rigor. A geometria euclidiana metáfora do saber na antiguidade clássica qual se manteve incólume no pensamento matemático medieval e renascentista, pois somente nos tempos modernos puderam ser construídos modelos de geometrias não-euclidianas. Euclides é a versão aportuguesada da palavra grega Εκλείδης, que significa "Boa Glória".
[3] Ainda hoje as construções mais elaboradas (e mesmos as menos em certo grau) dependem de cálculos geométricos em seu projeto para que se concretizem com fidelidade e estabilidade. Logo, tal ciência estava irremediavelmente atada ao ofício da construção justificando a importância qual era lhe dada pelos construtores.
[4] Euclides havia vivido em Alexandria, provavelmente no século III a.C.. Muito antes dele, a Geometria já era assunto no Egito. Era usada para medir terrenos e projetar construções como as pirâmides. Tão famosa era a Geometria egípcia, que matemáticos gregos como Tales de Mileto e Pitágoras, iam ao Egito para ver o que havia de novo em matéria de linhas e ângulos. Através de Euclides a geometria do Egito tornou-se ainda mais importante, fazendo de Alexandria o centro mundial do compasso e do esquadro, por volta do século III a.C.. Ele foi convidado a lecionar Matemática na escola instituída em Alexandria por Ptolomeu Sóter ou Ptolomeu I, que governou o Egito de 323 a.C. a 283 a.C., esta instituição também era conhecida era como “Museu”. A influência da Tradição Egípcia ainda hoje é fortemente sentida na Maçonaria Especulativa.
[5] Athelstane ou Etelstano foi o Rei dos Anglo-Saxões de 924 até 927, quando conquistou todo o território inglês, passando a reinar como Rei dos Ingleses até sua morte. Era filho do rei Eduardo, o Velho, e sua primeira esposa Ecgvina. Historiadores modernos o consideram como o primeiro Rei da Inglaterra e um dos maiores reis anglo-saxões da história. Foi um grande legislador, regulando inclusive na época, Ofícios tais qual a Maçonaria. Dentro da Tradição Maçônica é tido como o organizado do ofício operativo na Inglaterra.
[6] Dá-se no nome de caramanchão (bower) a uma construção utilizada em diversos espaços públicos, nomeadamente em espaços verdes, com o intuito de poderem ser utilizados para efeitos de descanso, abrigo, entre outros. Na sua construção é habitual serem utilizados materiais como ripas, canas ou estacas, e servirem de suporte a espécies vegetais tais como trepadeiras.
[7] No original “steward”, servente, mordomo ou provedor (um equivalente o Mestre de Banquetes no Rito Escocês), era o encarregado pela alimentação e festas promovidas pelas Lojas Operativas. Como curiosidade, “steward” era o epíteto de Owen Stuart (Stuart é uma variação de Steward), o pai da dinastia escocesa Stuart era servente do rei. Essa dinastia manteve estritos laços com a Maçonaria sendo seus herdeiros também grão-mestres do Ofício na Escócia.
[8] Talvez este trecho faça uma menção velada às penalidades medievais do Ofício, que hoje simbólicas, são aludidas no sinal de cada grau.
[9] Foram escultores de Sirmio que foram assassinados na Panônia por terem se recusado a fazer uma estátua pagã para o imperador Diocleciano (ou, segundo outra versão, a realizar sacrifícios aos deuses romanos). O imperador ordenou que os cinco fossem colocados vivos em caixões de chumbo e atirados no rio Sava por volta de 287 (ou 305). Foram considerados durante algum tempo padroeiros do Ofício da Maçonaria e seu martírio é considerado como uma das bases para a formação da Lenda do Terceiro Grau e sua narrativa alude a fidelidade ao Ofício (e a profissão de fá) que o Maçom deve resguardar.
[10] Este história é inspirada em Gênesis 11,1-9:
A terra inteira tinha uma só língua e usava as mesmas palavras. Ao migrarem do oriente, os homens acharam uma planície na terra de Senaar, e ali se estabeleceram. Disseram una aos outros: "Vamos fazer tijolos e cozê-los ao fogo". Utilizaram tijolos como pedras e betume como argamassa. E disseram: "Vamos construir para nós uma cidade e uma torre que chegue até o céu. Assim faremos nome. Do contrário seremos dispersos por toda a superfície da terra". Então o Senhor desceu para ver a cidade e a torre que os homens estavam construindo. E o Senhor disse: "Eles formam um só povo e falam uma só língua. Isto é apenas o começo de seus empreendimentos. Agora, nada os impedirá de fazer o que se propuserem. Vamos descer ali e confundir a língua deles, de modo que não se entendam uns aos outros”. E o senhor os dispersou daquele lugar por toda a superfície da terra, e eles pararam de construir a cidade. Por isso a cidade recebeu o nome de Babel, Confusão, por que foi lá que o Senhor confundiu a linguagem de todo o mundo, e de lá dispersou seres humanos toda a terra. Uma história parecida à da Torre de Babel aparece na mitologia suméria chamada de “Enmerkar e o Senhor de Aratta”, na qual Enmerkar de Uruk constrói um massivo zigurate em Eridu e os dois deuses rivais, Enki e Enlil acabam por confundir as línguas de toda a humanidade como efeito colateral da sua discussão. Aqui, alude ao perigo doa orgulho da jactância humana contra a ordem divina e o mau emprego do Ofício.
[11] As Ciências e Artes liberais é o termo que define uma metodologia de ensino, organizada na Idade Média, cujo conceito foi herdado da antiguidade clássica. Referem-se aos ofícios, disciplinas acadêmicas ou profissões (“Ciências” ou "artes") desempenhadas pelos homens livres. São compostas do Trivium (lógica, gramática, retórica) e do Quadrivium (aritmética, música, geometria, astronomia). Tal conceito foi posto em oposição às Artes Mechanicae (artes mecânicas) consideradas próprias aos vassalos ou escravos. As Sete Ciências e Artes liberais são mais fortemente trabalhadas no Ofício especulativo no Segundo Grau aludindo um ideal intelectual para todo Maçom.
[12] Agostinho de Cantuária foi um monge beneditino que se tornou o primeiro arcebispo de Cantuária em 597. Denominado o “Apóstolo da Inglaterra”, foi enviado ali em 596 pelo Papa Gregório I, a fim de converter aquele país ao cristianismo, tento começado seu encargo em Kent e se constituído arcebispo, tendo patrocinado a construção de diversas igrejas e catedrais, é dito na Tradição Maçônica ter sido um dos Mestres do Ofício naquele país.

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